segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Poema






de Jairo L. de Souza (ACE)


Quero fazer um poema
um poema para Zeus
um poema pros deuses
para um único Deus
quero fazer um poema
para os olhos teus....
Diga para mim
o que é preciso
para ganhar um sorriso
dos olhos teus...
As lágrimas que caem
do meu olhar tristonho
não são somente
um problema meu
É que você não deixa
Baby
eu fazer um poema
para os olhos teus...
Afrodite com certeza
nem Dafne
que se banhava no rio Peneu
imaginavam o que seria a beleza
da poesia
dos olhos teus...
Nem a chama roubada do sol
por Prometeu
nem o amor que a ninfa Eurídice
recebia de Orfeu
se comparam ao fogo e a paixão
que brotam dos olhos teus....
Quero fazer um poema
Baby
um poema para Zeus
um poema pros deuses
para um único Deus
quero fazer um poema
para os olhos teus....

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

O lobo do homem.




O ser humano é o mais selvagem e cruel dos animais que se arrastam sobre a Terra. Insatisfeito e incapaz com sua própria miséria, diverte-se, compraz-se com a miséria dos seus semelhantes; e, se possível, conduz a quem puder para dores maiores. Sem piedade, sem misericórdia, sem perdão. O homem é sempre o lobo do homem.
Terça-feira, 27 de novembro, final do dia, o sol agoniza por detrás da Igreja Matriz. No centro da cidade, a Rua Victor Barreto está intransitável, carros da polícia e do Corpo de Bombeiros ocupam a via. No alto dos sete andares de um prédio, em pé sobre o parapeito, um jovem de uns vinte e cinco anos parece perdido, vago, mergulhado sabe-se lá em que dores. Não aceita que ninguém dele se aproxime e lá permanece por mais de doze horas. Está drogado? Quer suicidar-se? Tem problemas mentais? Isso agora não vem ao caso, o rapaz foi resgatado pela manhã da quarta-feira. O apartamento, logo abaixo dele, fez-se posto de comando para o resgate. Lá estavam os bravos bombeiros carentes de apoio material, os familiares, amigos e pessoas estranhas, mas, de boa vontade, prontas a socorrer. Porém, há uns cinqüenta metros dali, sobre a passarela da estação do metrô, uma pequena multidão se comprimia; pode-se dizer que era uma malta que exultava ou uma matilha que aguardava saboreando o final com a desgraça que se anunciava. E gritavam para que o jovem se arrojasse, que saísse voando dali.
Artigo 122 do Código Penal: Instigação ou auxílio a suicídio. Pena: reclusão, de dois a seis anos. Mas, para aquelas pessoas, a pena legal não significa nada, por que moralmente estão mortas... ou ainda não nasceram; ainda são os lobos que se deliciam com o sangue de outros homens. Os homens e mulheres do apartamento de baixo dão-nos a esperança de que este mundo vai conhecer tempos melhores. Mas, os que se saciavam com a desgraça alheia na passarela dão-nos a triste perspectiva de que esses tempos melhores ainda estão muito longe de nós. Infelizmente.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Vergonha


Já não chove àquela hora. Pela janela aberta do último ônibus da noite, chega, às narinas de Osvaldo, o cheiro da terra molhada pela chuva da tarde. Chuva mansa, chuva boa, chuva de lavar telhado; chuva que, sobre as folhas de zinco da fábrica, ensurdecia mais que o matraquear das máquinas. A cabeça pesa-lhe, mas não é sono. Os braços pesam como chumbo, mas não é pelo cansaço da hora extra. A última hora extra, cumprida no silêncio aterrador da velha fábrica, já vazia de mãos e almas. Pesam-lhe a cabeça e os braços com um peso de uma angústia, um medo, uma insegurança, uma dor, uma vergonha. Em casa, os dois filhos pequenos dormem aconchegados à mãe que espera. Não suportaram o sono na espera pelo pai. A casa pobre, tijolos sem reboco, um corpo com veias à mostra, infindável construção. Um lar feito aos poucos, com o pouco das sobras anuais. Hoje, Osvaldo leva dinheiro para casa. Dentro da bolsa de operário, ao lado da marmita vazia, descansa o envelope com o último pagamento. O ônibus, praticamente vazio, já chacoalha pelas ruas esburacadas de seu bairro pobre e excluído das benesses da administração pública. Ao cheiro da terra molhada junta-se o gosto de sal de uma lágrima. Lágrima furtiva, que nunca vem fácil aos olhos de quem tem vergonha. Osvaldo engole o gosto de sal quando se aproxima da sua parada mal iluminada; parada que projeta um trapézio de sombra sobre os buracos alagados da sua rua pobre. Como explicar aos filhos e à mulher? Amanhã ele já não trabalha. Dentro da bolsa de operário, ao lado da marmita vazia, descansa o envelope com o último pagamento. Envelope com um pouco de dinheiro a mais que o costumeiro; o dinheiro dos acertos finais do aviso prévio e o começo da angústia, do medo, da insegurança, da dor e da vergonha.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

Eufemismos


Caros amigos, aqueles que estudam ou gostam da língua portuguesa (... lembram-se dela?) vão encontrar, entre as figuras de pensamento, um tal eufemismo que, como processo estilístico, consiste em atenuar uma idéia molesta, substituindo o termo contundente ou agressivo (sic) por circunlocuções menos desagradáveis ou termos mais polidos; ou seja, esse tal eufemismo serve mesmo é para dourar a pílula amarga. Pois, como figura de pensamento, é plenamente aceitável e deve ser usado, na escrita, na literatura, para evitar repetições, algo assim como um sinônimo mais educado; mas a banalização das nossas relações pessoais e a superficialidade como a sociedade encara essas relações botou o eufemismo na boca de todo mundo, está no dia-a-dia até da dona de casa que faz as compras no verdureiro. Estamos a um passo da discriminação e do preconceito mascarados pela polidez da palavra, pelo tal “politicamente correto”, criado pela sociedade norte-americana que, como todo mundo sabe, não é lá muito boa da cabeça.
Hoje, a empregada doméstica é “secretária do lar”, o cego é “deficiente visual”, o homem negro é “afro-descendente”, o gordo é “obeso” e o gordíssimo é “obeso mórbido” (... essa é boa!), o leproso é “hanseniano”, uma criança com retardamento mental é “excepcional”, ninguém mais morre, vai para o “andar de cima”, e por aí a coisa vai... É como se a profissão de alguém, a cor da pele ou qualquer disfunção ou deficiência física fosse um atributo imoral, uma coisa que só possa ser pronunciada à meia voz ou às escondidas.
Beiramos, sim, as raias da discriminação e do preconceito quando não temos capacidade de reconhecer valores morais e não somente criar distâncias entre as diferenças físicas e intelectuais. Criamos com isso, relações pessoais de mentira calcadas na superficialidade, no egoísmo e no preconceito gerando uma sociedade igualmente mentirosa, superficial e hipócrita. Daí o resultado de as nossas instituições serem carcomidas pela mentira que, filosoficamente, pode ser encarada como a “ausência da verdade”. Ou seja, faz-de-conta que somos um governo democrático, justo, honesto e preocupado com o bem estar social; e faz-de-conta que vocês são um povo ordeiro, honesto, trabalhador e cheio de civilidade. Você faz-de-conta que é verdade, eu faço de conta que acredito.
Falta-nos mesmo é coragem. Coragem para reconhecer que a nossa crise - seja ela individual ou coletiva - não é material, econômica, técnica ou institucional, a nossa crise é moral. Somos corajosos em apontar os defeitos dos outros, dos políticos, dos governantes; mas somos covardes para admitir que eles, “os defeituosos”, são frutos da mesma sociedade e que fomos nós que os colocamos no poder. Mas, para tudo há solução. É como nos diz o velho bordão popular: “Não gostou? Coma menos!”, ou seja, não vote mais em ninguém, ou aprenda a escolher melhor. O duro é saber quem é bom e quem não é, já que somos todos farinha do mesmo saco social. Opa, talvez eu devesse aqui usar de eufemismo: “... nos encontramos todos dentro dos mesmos padrões morais, e portanto não podemos discernir, e assim escolher, quem seja moralmente capacitado a nos dirigir, visto que a verdadeira autoridade, aquela que verdadeiramente respeitamos, é moral.”
Coragem! Pensem bem, é covardia nossa perdoar em nós aquilo que atacamos como defeito nos outros. Assim como as pessoas, um país não se torna bom da noite para o dia. A natureza não dá saltos, dizem os alquimistas. Quem sabe se a gente tentasse melhorar um pouco a cada dia? Usar de lealdade, sinceridade, olho no olho, menos eufemismos e mais altruísmo.
Pensem nisso!

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Anjo Colibri



Uma brisa de esperança
Sopra de leve aqui,
Ou será a asa de um anjo,
Um pequenino colibri?

“Esperança não sopra,
É substantivo abstrato!”
Corre em meu socorro
O sapientíssimo literato.

“Anjos são seres celestes
Que se chegam sem rumor”
Explica a teologia
Do santo abade prior.

“Um colibri esvoaça
Com seu bico de flor em flor”
Atesta a zoologia
Do graduado doutor.

Mas a brisa ainda é minha,
E sopra de leve aqui.
E me traz a esperança
Do meu anjo ser colibri.

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Olha ao teu redor.


Minha avó materna era uma velha siciliana lamurienta que jamais demonstrava estar bem. Por melhor que estivesse, quando lhe perguntávamos: “Como vai, nona?”, ela respondia: “Cosi, cosi...” (Assim, assim...), ou então: “Oh, Dio mio, como sofro!”. Bem, não existe herança moral, ninguém herda virtudes ou defeitos, mas a convivência e o exemplo podem ajudar na formação do caráter dos jovens.
Deixem-me contar-lhes uma história minha: quando meu filho caçula tinha dois anos escorregou num tapetinho da cozinha e fraturou a perna, logo o fêmur. Sábado de carnaval, emergência lotada de bêbados feridos, gente baleada, esfaqueados, acidentados, etc. A criança, lógico, chorava, a mãe apreensiva e o pai, aqui, desolado! “ Por quê, meu Deus? Logo o meu filho? Ele é tão pequeno!” Pois o guri passou o carnaval no hospital fazendo a redução da fratura e a cirurgia necessárias. Minha mulher, firme, velava a seu lado. Eu, inspirado pelas gerações sicilianas que me antecederam, era um poço de revolta. “ Por que comigo, meu Deus?”, Ele poderia responder: “E por que não?”, mas Ele age de maneira sempre a ensinar.
Durante a madrugada de segunda-feira, eu estava mais azedo que nunca na sacada do corredor, quando um homem se aproximou e cumprimentou-me. Gentil, perguntou-me o porquê da minha estada naquele hospital. Contei-lhe sobre meu filho. Devo ter exagerado, porque o bom homem tentou confortar-me como pôde, dizendo –me que tivesse confiança, que tudo ficaria bem. Aliviado com a solidariedade alheia, despertei da minha falta de educação e perguntei-lhe o que fazia ali. Contou-me, então, que, a cada quinze dias, visitava sua filhinha internada já há dois anos. Espantado com o tempo de internação, fui com ele conhecer a menina. O que vi gelou-me a alma: uma criança bonita e serena, de uns oito anos, com o corpo coberto de escaras – umas feridas purulentas – e presa a um pulmão artificial – há dois anos!- A menina, talvez pressentindo a presença paterna, abriu os olhos, deu um sorriso débil para o homem e voltou a dormir. O pai tinha no rosto um sorriso triste, mas era um homem confiante. Silenciosamente, acariciava a cabeça da filha com os olhos marejados.
A minha pergunta: “ Por que, meu Deus?” tinha sido respondida por Ele naquela madrugada. Ao despedir-me, o homem ainda aconselhou-me a ter confiança, que meu filho iria caminhar sem problemas. Envergonhado e desconcertado, fui abraçar meu guri.
Isso aconteceu há dezoito anos. Daquela noite em diante tornou-se para mim quase impossível reclamar das dores desta vida, não que ainda não o faça às vezes. Pois, por pior que sejam os nossos dramas, sempre há uma dor maior a ser lamentada, basta, meu amigo, que olhes ao teu redor. Pode parecer piegas, mas..., cara, como ajuda, como conforta!
Não sei por que essa lembrança me veio agora, de qualquer modo terá valido a pena contá-la se algum dos meus leitores, passando por dificuldades, venha a sentir-se confortado, encher-se de coragem e saia à luta sem esperar comiseração. E mais..., ninguém agüenta gente lamurienta e cheia de auto-piedade. Portanto, vá à luta, meu!
Pensem nisso!



sábado, 11 de agosto de 2007

Natureza morta



Entre as placas de concreto,
Na fissura da calçada,
O broto verde de macega
Teimoso, aponta.

Natureza insistente,
Não entende que está morta,
A qualquer descuido nosso,
Volta e ocupa.

Esse broto retorcido,
Queimado de fuligem negra,
Vem à superfície dos homens
E espia e encanta.

A macega ressequida,
Espremida entre as lages,
Volta as raízes à terra:
“Calma, não tarda, eles ainda estão lá!”.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

A família faliu?


Caros amigos, leio hoje as páginas policiais entre estarrecido, indignado e - sem medo da pieguice - comovido. Vejo pais, mães e avós impotentes e desamparados diante do avanço das drogas de abuso sobre os jovens de suas famílias. Nos seus desalentos, roubados da esperança, amarram, acorrentam, entregam à polícia os jovens rebentos, filhos de suas carnes; aos quais o amor paternal impõe, tão somente, amar e proteger. Dentro da total falência dos valores e incapazes de equacionar o problema, é assim que as famílias pedem socorro.
Como uma criança de treze anos pode invadir uma casa e, com violência, assaltar seus moradores usando um trinta e oito carregado? Como, em nome da nossa sanidade mental, isso pode acontecer? Os meninos e as meninas deste país, às dúzias, diariamente, estão morrendo, diante dos nossos olhos já insensíveis; estão morrendo e estão matando, quando deviam estar sonhando. Já é coisa tão comum que não nos choca mais. Ai, pobres de nós se perdermos a capacidade da indignação.
Onde foi que nós erramos? Onde é que estamos errando? E não me venham com a conversa de que a culpa é do governo, da polícia civil, da polícia militar, dos professores que perderam a autoridade. Não me venham apontar o dedo e dizer que a culpa é do outro; porque a culpa é “nossa”, é de todos. Não é o governo que faz a minha família, não é a polícia que afasta meus filhos das drogas, não é a professora que educa meus filhos. Sou eu! Somos nós! Nós, pais e mães de família, somos os responsáveis. Erramos quando atingimos o ponto em que valorizamos mais o ter do que o ser; enaltecemos o “se dar bem”, o “ganhar bem”, enriquecer a qualquer custo; com total desprezo por valores, éticos, morais e espirituais. Erramos quando não temos coragem para orientar e esperamos que outros o façam; quando não conversamos, não trocamos afeto, quando não servimos de exemplo e ensinamos que desonestidade é sinal de “esperteza”. Nossos filhos precisam de um modelo de autoridade, mas é bom lembrar: a única autoridade que realmente respeitamos é a autoridade moral.
As instituições do mundo, meus amigos, as ruas, as escolas, as empresas, podem fazer dos nossos filhos grandes homens; mas, só a família pode fazer deles homens de bem.
Pensem nisso!

sábado, 7 de julho de 2007

Benzedura.




Zefa reza a reza,
E na reza da reza se preza.
Se preza na certeza
Que muita peça prega a reza
Em ziquizira, mau olhado,
Em tosse forte e quebranto,
Amarelão e sarampo,
Mal de amor e de tristeza.

Mas Zefa tem a certeza
Que só não cura a aspereza
Do coração do “dotô”
Que vive a “tratá” com dureza
A pobre “véia” que reza
Por gosto do “Nosso Sinhô”!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Nossos políticos são ruins! Só eles?












Caros amigos, li o resultado de uma pesquisa internacional (?) – engraçado..., tenho 49 anos e nunca respondi pesquisa alguma, nem conheço alguém que tenha respondido. E o senhor? E a senhora? – Bem, mas a tal pesquisa diz que Brasil, Equador e México são campeões em não confiar na classe política; diz ainda que 70% dos entrevistados, entre 18 e 30 anos, estão descontentes com seus eleitos. As populações desses países – e nós no meio – acham que seus políticos são desonestos. Pergunto: só eles? Repito o que escrevi dias atrás: "Nossa sociedade é ruim por que somos ruins individualmente". Ora, o homem público, aquele que tem por obrigação administrar a coisa pública, de legislar ou mesmo de dizer o direito no caso do Judiciário, esses homens e mulheres, não são seres à parte na criação divina; são filhos e filhas da mesma sociedade, são nossos representantes, nós os escolhemos. Se não sabemos escolher, e está claro que não sabemos, é outro papo! O que também não isenta a classe política de ser fiscalizada. Como diria meu avô: “O que engorda o porco é o olho do dono!”.
Mas, vamos e venhamos, também não se pode colocar todo mundo no mesmo “balaio de gatos”, tem gente boa aí no meio - acho até que a gente boa é a maioria, pena que é tão calada e indolente..., assim como nós: aceitamos tudo tão docemente, tão convenientemente. A nossa crise é moral. Vivemos num tempo em que um pai de família já não se envergonha de ser desonesto e passa a seus filhos a idéia de que desonestidade é esperteza. Para muita gente, não é a consciência ou a moralidade que impedem que cometam crimes, é só a repressão policial, o medo de ser preso. O que é isso senão uma crise moral? Não é a classe política que dissemina o tráfico de drogas, é quando a “gente de bem” vai até a “boca-de-fumo” fazer sua “comprinha” que o traficante se sente incentivado - depois saem pelas ruas de mãos dadas, soltando pombinhas brancas e pedindo paz e justiça -. Por acaso, aquele que sonega impostos tem o direito de chamar um político de corrupto? Ou que rouba no peso? Ou o que passa cheques sem fundos? Ou aquele que faz “gatos” de energia elétrica e de água?
Existem políticos ruins? Ah, com certeza! Mas gente ruim existe em todo lugar, afinal somos humanos, somos falhos. Mas daí a dizer que só a classe política é desonesta, é uma desonesta pretensão.
Aliás, nós não precisaríamos de lei nenhuma, Constituição ou coisa que o valha, se uma milenar determinação moral fosse cumprida: “Não façais aos outros o que não quereis que vos façam!” Seria o suficiente para que toda a humanidade vivesse feliz e em paz!
Pensem nisso!

terça-feira, 12 de junho de 2007

Nossos pequenos delitos.


Caros amigos, um noticiário da noite mostrou, no saldo de um fim de semana, que um caminhão de bebidas havia tombado numa curva de uma estrada qualquer, enquanto o motorista sentado no asfalto, ainda tonto, era atendido pela polícia, a carga era saqueada por moradores da vizinhança. Eram mulheres, crianças, homens adultos, velhos, todos como uma horda de bárbaros, num alegre frenesi, disputavam a presa. Eu sei: isso é fato corriqueiro, já virou coisa comum. Alguns podem dizer: “E daí, meu? Não tem nada de novo! Não é de espantar!” Pois, pobres de nós se já perdemos a capacidade do espanto diante de uma coisa dessas e placidamente aceitamos que o ser humano aja como um chacal carniceiro. Ora, eram donas de casa ordeiras e pacíficas, eram crianças que freqüentam escola e igreja, eram chefes de família trabalhadores e honestos, eram velhos aposentados que já cumpriram seu dever para com a nação. Eram pessoas comuns,...éramos nós. Não eram piratas saqueadores. Não? Será que não? Só porque não usaram armas não significa que não furtaram. Aquela carga pertencia a alguém.
Que diferença há entre pequenos e grandes delitos? Não consigo ver nenhuma. Ninguém ali saqueou a carga porque tinha fome – o que talvez fosse justificável, repito talvez - saquearam apenas para “se dar bem”, para "levar vantagem" em alguma coisa, seja lá no que for. Que semelhança há entre pequenos e grandes delitos? O vício moral. O eterno erro de acreditar que quando eu faço algo errado é perdoável por que sou bom, quando é outro que erra, ele é mau e deve ser punido.
Nossa vida é cheia de pequenos delitos, é um somatório de pequenas trapaças “perdoáveis” que tentamos esconder sob o tapete do refinamento social. Enganamos a quem? De nada adiantam as passeatas de mãos dados carregando faixas pedindo paz e soltando "pombinhas" brancas e à noite ir até a boca-de-fumo para comprar uma "erva". Pura hipocrisia. Na maioria das vezes só não cometemos crimes maiores por falta de oportunidade, como essa de roubar carga tombada na estrada, ou por medo da punição. Nossa sociedade é ruim por que somos ruins individualmente. Se cada um de nós varresse a calçada diante da própria porta, logo a cidade inteira estaria limpa.
Pensem nisso!

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Biografia de um homem.







Caros amigos, li recentemente o livro Paulo de Tarso de autoria do filósofo catarinense Huberto Rohden, numa edição da Martin Claret. Recomendo. Como diria meu avô: “É supimpa!”. Trata-se, como o título faz entender, de uma biografia dramática do Apóstolo dos Gentios, que foi convertido às portas de Damasco. O que o livro tem de diferente? Simplesmente não santifica o homem, ao contrário, humaniza o grande herói do cristianismo. Desde o momento em que o jovem e orgulhoso fariseu dobrou seus joelhos sobre o pó da estrada, até a hora em que, em Roma, docemente oferece o pescoço ao carrasco de Nero, a história de Paulo nos ensina que não se pode mudar a sociedade se não mudarmos o homem. Para isso, trabalhou em si mesmo, até quase a exaustão, nos modelos deixados pelo Cristo: a fé e a coragem.
Fé que representa o auto-conhecimento – o “conhece-te a ti mesmo” de Sócrates- o entendimento de que tudo está no homem, de que é inata a capacidade de crescermos para o bem e para o belo, que é o destino final da humanidade. Fé que representa nosso poder em controlar nossas vidas, o livre arbítrio. Permitimos, ou não, que as coisas de Deus cheguem a nós. Nada está traçado, exceto nosso rumo para o bem, fora disso, somos os senhores do nosso futuro.
A coragem representa a auto-realização. A nossa experiência pessoal em vencer passo a passo os nossos velhos demônios interiores (aqueles que assolam nossas vidas, mas que teimamos em dizer que são dos outros, quando na realidade estão em nós). Sem isso, não há renascimento, não há auto-realização. Não existe redenção extrínseca ou seja, ninguém vai me salvar de nada; existe sim a auto-redenção, matar o homem velho em nós, a reforma interior. O Cristo, como modelo que é, nos orienta e ampara, mas não se mete nisso, é problema nosso. É uma luta humana.
A vida de Paulo de Tarso serve como exemplo para todos nós. Não é a biografia de um santo, é a vida de um homem em toda a sua grandeza e dor.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Dicotomia


A morte não me põe lágrimas,
é da vida que me vêm as emoções.
A morte é coisa traçada,
sem graça, tá ali, no fim de tudo.
Insofismável.
Desagradável.
Irreparável.
A vida sim, é ato vago,
coisa de ter coragem,
Presente.
Transigente.
Surpreendente.
E tão da gente!

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Desigualdade entre iguais.


Caros amigos, o art.º 5º da Constituição diz que “... todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,...” A diferença só é mencionada no caso de homens e mulheres, e mesmo assim, para dizer que somos iguais em direitos e obrigações. A lei faz igualdade de sexos, dá liberdade de consciência, de crença, de liberdade de culto e liturgias, mas em nenhum momento faz distinção de raça.
Quando Einstein exilou-se nos Estados Unidos, ao responder um questionário para um agente da imigração sobre qual a sua raça, o físico teria respondido espantado: “Raça humana!” – gênio é gênio – foi uma antevisão: hoje a genética provou – vide o projeto Genoma Humano – que a espécie humana não se divide em raças. A natureza considera que as “raças” se formam em decorrência do isolamento das populações – vide Charles Darwin – O ser humano começou a migrar pelo globo há uns 120 mil anos evitando esse isolamento geográfico. Somos, geneticamente, absolutamente diferentes uns dos outros, independente de termos ou não a mesma cor da pele, dos olhos, do cabelo, etc. Transcrevo, na íntegra, uma explicação do pesquisador Sérgio Danilo Pena, participante do projeto Genoma Humano, publicado na Revista Época: “Eu, que sou branco, sou geneticamente tão diferente de outra pessoa branca, quanto de um negro africano. Se eu tiver acesso às ‘impressões digitais’ do DNA de dez europeus, dez africanos, dez ameríndios e dez chineses, não vou saber quem é de qual grupo. Todo mundo é diferente.” Portanto, caros amigos, não existe pureza racial e quem inventou as tais “raças humanas” foi o racismo científico nascido pelos 1.800 para justificar a escravidão e a opressão dos imperialistas.
Hoje, o que anda pelas ruas são os filhos diletos desse racismo, que são o preconceito e a discriminação. Haverá o dia em que o sonho de Luther King se realizará, o dia em que as pessoas serão julgadas pelo caráter e não pela cor da pele. Mas, se somos todos iguais – por tão diferentes geneticamente - por que acreditar na inferioridade intelectual de negros, índios ou amarelos? Por que aceitarmos privilégios seletivos baseados no critério da cor da pele? O processo de distribuição de vagas nas Universidades pelo sistema de cotas é inconstitucional e sustenta uma divisão racial que não existe.
Num primeiro momento pode parecer como sendo a resolução dos problemas de inclusão social, mas penso que nem os movimentos negros devem estar satisfeitos com esse tipo de solução que, a meu ver, pode gerar muito mais discriminação no futuro. O “apartheid” no Brasil não é racial, mas sim, social. Na realidade, os pobres, independente de sua cor, estão longe do acesso a seus direitos civis e sociais. E o sistema de cotas permite ao governo – que não sabe o que fazer - empurrar com a barriga o momento de investir pesado na geração de empregos, na saúde pública e, principalmente, em educação, que são coisas que efetivamente podem melhorar a vida de negros e brancos pobres, dando-lhes condições de concorrer com as classes economicamente superiores.

Pensem nisso!

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Argos



A vida, ávida de vida,
É como agulha que aponta o norte.
Como argonauta que em mar confuso
Se entrega à lida por melhor sorte,
Avulta a luta, empunha o gládio
E fere de morte a morte.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Los macaquitos.


Caros amigos, na leitura do jornal no fim de semana, deparo-me com um anúncio comercial de lançamento de um condomínio de alto luxo e, para minha surpresa – ainda consigo me surpreender -, o tal anúncio estava cheio de expressões estrangeiras, coisas como: “office space”, fitness center”, espaço “gourmet”, “wireless”, etc. – que diabos será “wireless”? ... menos arame?...sem fio? - Me dói reconhecer que os argentinos estão certos quando nos chamam de “macaquitos”. Por que usar esses termos estrangeiros? O tal empreendimento imobiliário não ficará melhor se forem usados esses estrangeirismos pomposos. É..., é mesmo coisa de povo subdesenvolvido! Qualquer botequim hoje usa apóstrofe e “s” na fachada – “Zé’s Bar”; cabeleireiro virou “hair stylist”; entrega em domicílio é “delivery”; aniversário, quando não é o infantilóide termo “niver”, é “birth day”; e o que dizer das lojas em que liquidação de 50% virou “50% off”?

Dentro do “Shopping” Canoas os alarmes contra-incêndio estão escritos em inglês, deve ser para favorecer a imensa colônia americana que vive por aqui. Os lingüistas vão dizer que a língua é uma coisa viva, que está sempre em modificação, adaptando-se às ruas. Concordo. Mas, a língua também é o maior veículo de propagação da cultura de um povo ou ao menos de manutenção dessa cultura. Com relação a isso, estaremos pecando muito se não pusermos um freio nessa tolice toda. Povo sem cultura é povo subdesenvolvido, é massa de manobra, o país é só uma colônia. Não precisamos de estrangeirismos, a nossa estupidificação já é gritante quando não se perde a novela das nove; quando se discute os filmes da Xuxa, as receitas da Ana Maria ou os dançarinos do Faustão; quando música boa é a Banda Calipso ou o Latino; quando boa literatura são os livros do Paulo Coelho; ou quando se acredita que os deputados sanguessugas e mensaleiros serão punidos. É, não temos jeito mesmo! Pensando bem, os argentinos estão certos!
“That’s all, folks!”



sexta-feira, 4 de maio de 2007

Dúvidas

Não te iludas, não devaneies.
Vive a verdade o melhor que puderes.
Estás no mundo e não sabes
P’ra quê.
Lutas na vida e não sabes
Por quê.
E te alegras e choras e sonhas.
Anseias o quê?

Não me perguntes nada,
Nada sei de respostas.
Que também vivo às voltas
Com a ilusão.
Mas se ajuda e consola,
Lá vai um conselho:
Ama! E não terá sido em vão.

terça-feira, 1 de maio de 2007

O Essencial é invisível.

Caros amigos, lembram-se de O Pequeno Príncipe, de Saint-Exupéry? Pois o livro foi um sucesso tremendo entre os adolescentes de minha geração. Achávamos que era um livro infantil, mas, assim mesmo, nos cativava... Em verdade, é um livro para adultos, mas só consegue entendê-lo de primeira quem tem a sabedoria das crianças. Da sua leitura – e releitura depois de adulto – restou-me uma lição: “... o essencial é invisível aos olhos.” Acredito nisso! A vida verdadeira, a que vale a pena ser vivida, na plenitude da paz, da alegria e do equilíbrio, é feita de pequenas delicadezas invisíveis a nossa grosseira visão material que temos de tudo. O essencial normalmente não está no foco principal do nosso objetivo, quase sempre de fundo egoístico; o essencial está no periférico, naquilo que passa por nós e não percebemos. Está no “Bom dia!”, está no “Obrigado!”, está num sorriso que se dê ou que se receba, está nas gentilezas, no crescimento através da educação, está na própria “educação”. O essencial está lá, nos substantivos abstratos que a visão profunda das crianças consegue melhor captar.
Lembro-me, há alguns anos, quando uma escola fez uma exposição fotográfica e convidava as crianças a opinarem sobre os opostos, tipo: “o triste e o feliz”. Uma das fotografias, de um país qualquer no oriente, retratava uma mulher de joelhos chorando, de braços erguidos em sinal de submissão e um homem de turbante, em pé, com um bastão na mão, truculento, ameaçava a mulher. Nos olhos do homem, cólera; nos lábios, um sorriso irônico. Pois uma garotinha de uns seis anos sentenciou: “ O homem é triste”. Perguntada sobre o porquê da resposta, já que era a mulher a agredida, respondeu: “Por que ele é doente e não é feliz!”. Bingo! A criança viu o essencial, pois colérico, o irado, é a primeira vítima de si próprio. Alterando sua saúde, comprometendo sua vida e fazendo a todos ao seu redor infelizes.
Ninguém vai trilhar a estrada da felicidade pavimentando-a de preocupações com a aquisição de coisas materiais. As coisas materiais são necessárias para a sobrevivência com qualidade, mas não são o mais importante. São até supérfluas para a vida verdadeira. Ninguém entra no reino da felicidade se não tiver o coração de uma criança. Encontrar a essência das coisas, o que é invisível aos nossos olhos, isso sim é importante.
Pensem nisso!

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Espiritismo, 150 anos de luz para o mundo.


Caros amigos, neste mês de abril comemora-se o sesquicentenário do surgimento do Espiritismo no mundo. Em 18 de abril de 1857, em Paris, foi lançada a primeira edição de O Livro dos Espíritos, obra codificada por Allan Kardec, pseudônimo do pedagogo e cientista francês Hippolyte Léon Denizard Rivail; este lançamento literário marca o início da jornada luminosa da Doutrina Espírita. E surge como contraponto ao materialismo exacerbado do Séc. XIX. Cientistas e pensadores do Século das Luzes, já cansados da fé cega e do medo preconizados pelas religiões acadêmicas, encontram no materialismo bruto a sua boa oficina e com eles arrastam multidões. Mas, engana-se aquele que crê ser o Espiritismo uma religião; é sim, antes, uma doutrina nova que se assenta sobre um tripé formado pela Filosofia, pela Ciência e pela Religião. A dissociação desses elementos é que vai formar a fé cega e sem argumentos, vítima fácil para os materialistas. A Filosofia busca a resposta para as questões de sempre: a existência de Deus, a imortalidade da alma, a pluralidade das existências humanas; quê sou eu? de onde vim? para onde vou? A Ciência, através do empirismo, da constante experimentação, busca a comprovação daquelas questões filosóficas. A religião encontra no Cristianismo a base moral e ética da nova doutrina. A religião conduz ao Amor Universal, sendo o Cristianismo a expressão mais sublime desse Amor e o Evangelho de Jesus é o código de ética e postura que edifica a redenção das almas. O Espiritismo ocupa-se somente com a moral evangélica, entendendo que a dor e o sofrimento do Cristo são exemplos de abnegação e humildade, não devendo jamais ser motivo de adoração.

O Espiritismo não possui dogmas, não tem formalidades exteriores, não possui liturgias, não faz prosélitos. Vale-se da simplicidade sem ostentação para ensinar aos homens o caminho da reforma íntima, a verdadeira reforma moral, por que elaborada no cadinho íntimo das almas. Resgata-nos a capacidade de raciocinar, transformando os homens em livres-pensadores, com a graça de Deus.

São 150 anos de luz para o mundo, clareando caminhos antes obscurecidos pelo fantástico, pelo maravilhoso, pelo sobrenatural, pelo milagre, pela fé cega e sem intenção de esclarecer. O Espiritismo é doutrina que conduz ao bem, ao belo e ao verdadeiro. Mas, não é a Verdade final, é uma parcela da grande Verdade de Deus e um grande passo no entendimento da máxima evangélica: “Conhecereis a Verdade e ela vos libertará!”. Sem medo do futuro, sem medo do “castigo” de Deus, sem crendices, sem superstições, com a convicção de que no esforço íntimo está o esclarecimento e o consolo. “Véritas super omnia”, a verdade acima de tudo, sempre.

Que assim seja!

domingo, 29 de abril de 2007

Folhas de outono.


No horizonte, o céu vermelho,
é prenúncio da noite fria
o outono traz folhas mortas
forrando a rua vazia.

A solidão é assim,
de nada vale a renúncia, de nada vale blefar,
iguais são as noites, sem fim,
é a alma que flutua, o coração a chorar,
ninguém espera por mim.

Molhando o travesseiro
de lágrima e suor,
as folhas vermelhas de outono
me fazem sentir melhor.

São sempre madrugadas
tão tristes, tão frias
destas noites sem sono,
me perco entre as folhas de outono,
me restam as ruas vazias.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...