sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Desejos.



Caros amigos, não há nada de novo debaixo do sol. Não existem milagres e a ciência matou o sobrenatural. Crendices e superstições não têm o poder de modificar o rumo que as nossas vidas tomarem. E esse rumo somos nós que indicamos, bom ou ruim, depende de nós. Ninguém está predestinado a nada, nosso destino, nós fazemos. Portanto, para este ano que se inicia, quem desejar saúde trate de se cuidar, faça exercícios físicos, mantenha uma alimentação sadia, evite excessos, cuidado com o álcool, melhor não fumar; quem desejar sucesso na vida material, busque o trabalho, seja disciplinado, estude muito e sempre, persevere em tudo e tenha boa vontade para com os outros, qualquer que seja sua atividade profissional; quem desejar um grande amor, aprenda a doar-se, busque amar mais que ser amado, entenda que aqueles a quem amamos não são nossa propriedade, substitua o egoísmo pelo altruísmo, esqueça essa bobagem de alma gêmea e não seja tão exigente, busque alguém que o complete e não que seja igual, esqueça um pouco de si e aprenda a ouvir; e aquele que desejar paz que primeiro desarme seu coração.

Não só o ano novo mas nossas vidas inteiras serão aquilo que nós quisermos, somos nós que construímos nosso futuro. Por isso, caros amigos, não lhes desejo essas coisas todas – que na maioria das vezes só falamos da boca para fora – como paz, fortuna, saúde, etc.; mas desejo sim, que em todos os momentos de nossas vidas tenhamos coragem para vencer os obstáculos com equilíbrio, tenacidade e respeito ao próximo. Acreditem, está em nós o poder para fazer a nossa vida muito melhor.

Mas, se você é dos que acreditam em milagres, que vai ganhar as coisas de mão beijada e sem esforço, então enfie lentilhas nos bolsos, coma doze grãos de uva, pule sete ondas na praia, use roupa branca ... 

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

É a hora da omelete.



Caros amigos, impossível não voltar ao tema; mas, como a resposta não vem, pergunta-se de novo: até quando, enfim, o cidadão pacato, ordeiro e de bem será refém do medo, da violência, da criminalidade, do estado paternalista cujas leis defendem mais os canalhas que os homens de bem? Ora, apesar da retórica, a resposta é simples! Duvido, no entanto, que algum “governante” tenha a coragem de responder com sinceridade, de acordo com os ditames do coração. Isso porque o governante é uma imagem externa, depende do voto, age e fala de acordo com o politicamente correto. Fosse sincero, dissesse o que realmente pensa, perderia muitos votos! Mas, a resposta para a pergunta inicial é simples: a diminuição da criminalidade só se dará quando o Estado mostrar-se mais poderoso que o bandido. Simples!

Não é possível que no Brasil, aliás, como “nunca antes na história deste país”, se continue tratando a criminalidade como mera questão social. Bolsa-família, bolsa-escola, vale-transporte, vale-refeição, soldado-cidadão, primeiro emprego, etc., nada disso fez  ou fará diminuir a violência, talvez não em curto prazo. Aliás, em muitos casos o que se viu foram irregularidades e fraudes causadas por quem deveria gerir tais recursos. Entendo que as políticas sociais devem ser mantidas, mas seus frutos só se colherão em longo prazo.  No entanto, tratar o crime como problema exclusivamente social não passa de uma discriminação estúpida, como a dizer que só o pobre é um bandido em potencial, e não como uma questão de índole. Não conheço nenhum pobre sendo processado por fraude milionária ao sistema bancário. O crime, em qualquer situação, é questão policial e assim deveria ser tratado: dentro da lei, mas com muito rigor. Ou seja, tolerância zero, mas já, agora, para qualquer delito, desde os mais graves, como o homicídio, o latrocínio, o estupro, os assaltos violentos, passando por dirigir embriagado (onde foram parar os bafômetros e as prisões televisivas?), os maus tratos a animais, até a compra de votos por um canalha qualquer travestido de homem público. Mas..., os celulares continuam nas cadeias, continua o foro privilegiado, o policial tem de se justificar se usar as algemas... Com tolerância zero, todo criminoso sabe o caminho que o espera: a cadeia. Mas, que sejam cadeias que recuperem os homens, não esses depósitos de lixo humano.

A questão social pode ser um dos motivadores da violência, é certo. Mas o Estado é tão ausente, impera tamanha impunidade, que é sempre fácil cair no crime e nele permanecer. Só educação e cultura podem gerar cidadania, o paternalismo do Estado, sem uma política social voltada para a educação, gera cada vez mais diferenças sociais. Mantenho esperanças na legalidade do Estado, mas entendo que chega uma hora em que os ovos têm de ser quebrados para se fazer a omelete.

Pensem nisso! 

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Solilóquio está na Feira.

Convite aos amigos e aos caros leitores,

Pois, o livro de contos "Solilóquio e outras histórias curtas" está também na 54ª Feira do Livro de Porto Alegre.
Nesta quinta, 13 de novembro, às 16:30 h., estarei autografando na feira, no Pavilhaõ de Autógrafos, ao lado do Memorial do Rio Grande.

O livro poderá ser adquirido na barraca da Livraria Futura e, no dia, na entrada do Pavilhão.

Será um prazer recebê-los. Até lá e um grande abraço. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O vício do poder.


Maquiavel nos ensina em O Príncipe, que o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Meu pai dizia, na sua sabedoria bronca de torneiro mecânico, que para se conhecer, de verdade, uma pessoa, basta dar-lhe poder ou, então, uma boa pinga. Pois que, os dois vícios revelam a personalidade escondida. Existem os que recebem o poder, mas não o desejam, estes normalmente são os melhores gestores. Existem, no entanto, os viciados, desejosos e ansiosos pelo poder, e estes, no mais da vez, não o merecem. A política, por exemplo, é o melhor campo de atuação do desejoso de poder. Ser o dono da máquina pública, ter nas mãos a chave do cofre, conhecer os meandros das grandes negociatas; ter, enfim, poder sobre o dinheiro público, que é, ao mesmo tempo, de todos e não é de ninguém, mas que o viciado no poder pensa que é só seu. E quando percebem que estão perdendo o poder, ou se desesperam ou, na maioria das vezes, mudam de lado rapidamente para se conservarem atuantes. Os gananciosos por poder são melindrosos, porque o poder não aceita que lhe chamem a atenção para seus erros. São autoritários, sem autocrítica e sem auto-imposição de limites. Mas, não acreditem que falo só da política. Isso não é regra. Conhecemos todos, pessoas que trabalham na política com altruísmo e sempre visando o bem público. A ânsia pelo poder é um dos vícios da humanidade, uma das suas mazelas morais contra a qual o homem, que deseja realmente crescer como ente humano, precisa lutar. É o desejo de subjugar os que lhe caem na esfera de atuação, seja na política, no trabalho, na família, na relação conjugal, na vida de sociedade, enfim. O ganancioso desumaniza-se, dessocializa-se; ele deseja ardentemente ser o centro de todas as atenções, onde todos devam girar ao seu redor e depender de sua decisão. Usa-se o sexo para atingir o poder, usa-se o conhecimento restrito a poucos, a religião misteriosa e dogmática, a informação sonegada do público. Quem tem ânsia pelo poder não mede esforços, é capaz de qualquer coisa para atingir o seu objetivo e depois, conservá-lo. Vale qualquer coisa, passando pela compra de votos e até matar alguém. O viciado pelo poder dificilmente melhora sua conduta, porque não sabe que está errado ou doente, pois quem tem poder extremo cerca-se de bajuladores, que também desejam o poder, pessoas que nunca lhe apontarão os seus erros. E ai daquele que lhe disser que está errado, será considerado um traidor. O poder pode ser um vício ou uma arma na mão dos fracos e gananciosos; ou pode ser uma ferramenta, nas mãos de homens de bem, usada para alavancar o progresso da sociedade. O homem de bem, é modesto, não deseja o poder, e por isso mesmo é bem quisto. O ganancioso usa o poder como se ele fosse um ser à parte da sociedade, é prepotente, pedante, e, quase sempre, pelas costas, é odiado. E você, como usa o poder?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Ação e Reação.




E então, como anda seu estado de espírito? Está tudo bem? Em paz com a vida e com os seus? Se está..., então ótimo! Mantenha o bom ânimo. Mas, se está agitado, nervoso, preocupado, depressivo, desesperançado, sentindo-se a criatura mais sofredora deste mundo, aquele a quem ninguém compreende..., vá com calma; a vida não é uma coisa tão ruim assim. Você pode estar criando um demônio mais feio do ele realmente é. Tudo depende da nossa postura mental diante do mundo. Dizem que para toda a regra existe exceção. Pode ser..., sei não. Mas, para as leis universais que regem as nossas vidas não há “jeitinho”. Pela lei de Ação e Reação, a vida será para nós aquilo que fizermos dela, seja de bom ou de ruim. Assim, quando tudo parece conspirar contra nós, talvez sejamos nós que conspiramos contra tudo. A vida é assim e você, meu amigo, minha amiga, não é exceção, não tente fugir da realidade. Não tente esconder-se feito avestruz com a cabeça dentro da terra. E fantasias e milagres não existem. A vida, enfim, é dura para quem é mole. Reconheço: é difícil manter o pensamento positivo, somos constantemente bombardeados com notícias ruins e sensacionalistas. O problema é que ficamos sempre mais impressionados com as desgraças, adoramos comentar sobre tudo o que é mau. Com isso, criamos os nossos demônios dentro de nós e ao nosso redor. Aos poucos, sentimo-nos derrotados e sem capacidade de lutar, ficamos absolutamente negativos com tudo e com todos. Como, então, mudar a polaridade dos nossos pensamentos? Isso sim é simples de fazer. Começando por não comportar-se como os conformados ou pessimistas, porque esses já estão derrotados. O soldado que vai para a batalha acreditando na sua derrota, já perdeu a guerra antes de entrar nela. Lembre-se como uma bela manhã de sol afasta todos os monstros que a noite de insônia nos trouxe. Procure olhar sempre o lado bom da vida, quem está perdido, mas não se desespera, acha a saída. Anime-se, portanto, e a cada dia procure fazer o seu melhor em tudo, a vida vai lhe responder também com o melhor. Dou-lhes um exemplo: um amigo meu (aliás, de muita gente, estou só sendo egoísta) foi candidato a vereador nessas passadas eleições. Jornalista, poeta, escritor, intelectual refinado, um homem extremamente simples. É claro que ele não foi eleito. Em um jantar, dias antes das eleições, ele nos disse que tem muita esperança no futuro, que ainda é novo, que tem muitos anos pela frente e poderá fazer alguma coisa de positivo pela sociedade em que vive. Maravilha. O meu bom amigo tem 81 anos. Isso é pensar positivo, isso é ser positivo, é estar sempre bem, sob qualquer ponto de vista. Pois, tentemos ser assim, vejamos o lado bom das coisas. A vida continuará sendo difícil? Sim! Continuaremos a lutar pela sobrevivência? Sim! Mas, estaremos melhor preparados quando as adversidades nos baterem à porta.
Pensem nisso.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Escolher ou decidir?



Caros amigos, vocês já viram como os comerciais da televisão transformam a vida numa coisa fácil, simples e descompromissada? Tudo começa com uma simples escolha – da coisa certa, é claro! E o certo é o que está sendo anunciado. E você só escolherá essa coisa, se tiver bom gosto, se for um cara de classe, se for inteligente, etc. Enfim, um cara meio paspalho, assim como eu, está ferrado. Qual o leite você vai escolher? Qual o par de tênis? Qual cerveja? Qual combustível vai colocar no seu carro com motor “mega total power full flex fuel”: álcool ou gasolina? Pois é, o ato de escolher banalizou-se e isso se transferiu para a vida e já fazemos confusão, principalmente os mais jovens, entre escolha e decisão. Como se bastasse apertar um botão no controle remoto que tudo se ajeitará. Mas, a vida é dura e cobra seu preço muito alto para quem só sabe escolher e não tem coragem para decidir.
Pois, escolher é ato de impulso, quase descompromissado, quase sempre é sobre o melhor, o mais fácil e no menor espaço de tempo. Crianças e adolescentes sabem e podem escolher. Coisas como: Qual canal assistir? Em qual cinema entrar? Que tipo de combustível usar? Qual a cor favorita para pintar a casa? Quero café puro ou com leite? Uso a calça preta ou a marrom? Decidir, no entanto, relaciona-se, sempre a situações mais graves e determinantes para a vida. É preciso o uso da lógica e da razão, muito pouco do coração; decide-se pelo que é certo e não pelo mais prazeroso. Ou seja, decide-se pelo melhor que, na maioria das vezes, não é o mais fácil. Enfim, é preciso maturidade para decidir. Infelizmente, a maioria dos adultos ainda não é madura e afasta-se logo do que é demorado e dolorido, mesmo que seja o certo a fazer. Casamento, profissão, educação da família, honestidade e lisura nas relações humanas, isto se decide não se escolhe. Hoje, separam-se os casais (amor não se separa) como se trocam os canais de TV por um controle remoto; o mesmo para as escolas, empregos, amigos (será possível trocar um amigo?). Por que lutar por um relacionamento? Divórcio é fácil. Para que pensar (já que pensar dói), decidir? Por que usar a razão (eu não sou maduro mesmo)? Muda-se, ou melhor, escolhe-se. Li um artigo que falava em dados do IBGE mostrando que nos aproximamos da casa de 50% de separações (classes A e B). Ou seja, parece que muitos estão escolhendo casar, em vez de se decidir pelo casamento. Cada vez escolhemos mais e decidimos menos. É a ditadura do controle remoto. Não é coincidência a preferência das novas gerações pela comida rápida, o tal “fast-food”. Minha geração não é perfeita, ao contrário, só estamos tentando melhorar o mundo agora quando chegamos à faixa entre os 50 e os 60. Mas, nós aprendemos a lidar com as conseqüências das nossas decisões. Ou, pelo menos, alguns de nós. Afinal, o que é certo e o que é errado?
Pensem nisso.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O fim do espetáculo.


O show terminou. Fim do espetáculo. Quem viu político ou banqueiro algemado viu, quem não viu, não vê mais. O policial, de repente o nosso astro favorito, não mais pode apresentar-se no elenco da prisão espetáculo. Pois, ainda na esteira da Operação Satiagraha, desenvolvida pela Polícia Federal, o Supremo Tribunal Federal decidiu disciplinar o uso de algemas nas operações policiais. Tá certo! Talvez fosse preciso mesmo preciso estabelecer umas regras. Algema tem de ser um instrumento de contenção, não de punição; deve servir para proteger o policial e até o próprio preso. Mas (e aí foi o pecado), a tirar o sujeito da cama, algemá-lo de pijamas e expor isso tudo no Jornal Nacional é uma tremenda fogueira de vaidades. E, com relação à vaidade, ninguém consegue competir com as estrelas do STF. A Polícia Federal prende, tenho certeza que depois de muito tempo de investigações sérias, mas não condena ninguém. Porque condenar é lá com o Judiciário, que raramente condena um pilantra de colarinho branco ou um político malandro, que é o que realmente importa. Restava à opinião pública saciar a sede de vingança com a imagem dessa gente sendo presa algemada. E esse Daniel Dantas, hein? Que força tem esse banqueiro enrolador e enrolado até o pescoço! Foi só prender o sujeito que a legislação foi mudada..., e numa rapidez de ação não muito comum na Suprema Corte. E vem mais por aí, o Ministro Gilmar Mendes, Presidente do STF, já cogita proibir a divulgação da imagem de presos na televisão, diz ele: “A exposição de presos viola a idéia da presunção de inocência, viola a idéia da dignidade da pessoa humana”. Tudo bem, desde que isso seja para todos, do ladrão de galinhas ao banqueiro ladrão. Por falar nisso, já perceberam que da tal Operação Satiagraha não ficou nenhum no xilindró, Celso (de pijamas) Pitta, Daniel Dantas, Naji Nahas, estão todos soltos. A decisão do STF, a súmula vinculante (esse é o nome), diz que as algemas só devem ser usadas em caso de resistência ou perigo de fuga, a justificada excepcionalidade deverá comunicada, por escrito, pelo agente policial, sob pena de punição. Tomara o tiro não saia pela culatra, tomara as polícias não se sintam “algemadas” e o seu trabalho, nesses tempos de violência urbana, não seja ainda mais prejudicado. E, caro leitor, não se atreva a pensar que, por ser um cidadão decente, ordeiro, cumpridor de seus deveres, isso não lhe diga respeito; pois, quando se disciplinam, e se ajustam, as regras que contrariavam os interesses dos que detém o poder econômico, isso significa que a nossa sociedade é doente, ou imatura, o suficiente para aceitar um regime de castas superiores. As algemas, por enquanto, só estão liberadas nas brincadeirainhas eróticas de sado-masoquismo, ali eu duvido que essa turma reclame por ser algemada.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Quando...


Da amiga poeta Maria Zeli


Quando eu morrer e ressuscitar
Eu quero vida sem dor
Quando eu morrer e ressuscitar
Eu quero todo o dia sujar as mãos de terra
E lavá-las na água da chuva
Quando eu morrer e ressuscitar
Eu quero vida sem culpa
E beijo de afundar a face
Quando eu morrer e ressuscitar
Eu quero vida sem regras
Lareira para as noites de inverno
E só vou beber vinho tinto
Quando eu morrer e ressuscitar
Eu não quero passado nem futuro
Só hoje e céu azul
Quando eu morrer e ressuscitar
Eu quero vida sem partidas
Quando eu morrer e ressuscitar...

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Quem cala..., consente!


Lembro-me, nos tempos de Faculdade, do velho professor Dr. João Asmar ensinando o seu latinório: “Ille tacitus, consen.” Ou seja, em bom português: quem cala, consente! E eu, cá do meu jeito, acrescento: se não tens coragem para falar, cala-te para sempre; ou engula os sapos e aceite ser vítima do próprio silêncio. Porque é o silêncio do povo que incentiva o poder aos desmandos, à corrupção, à vileza e à tirania. De fato, cabe aqui uma questão: por que tantos de nós discordamos dos absurdos que presenciamos e nos calamos diante deles? Por que temos tanto medo de ofender quem detém o poder? Serão ecos dos tempos de ditadura? Será uma herança maldita da colônia que ainda somos? Certo é, caros amigos, que o nosso silêncio eterniza os desmandos e quem os pratica sente-se cada vez mais seguro.
Por que nós sentimos que estamos “incomodando” quando cobramos nossos direitos? Será complexo de inferioridade? Ou medo de perder os benefícios que o Estado paternalista nos dá? Pois, quem cala consente em todo tipo de abuso, desmando, violência, troca de favores e impunidade. Alguém aí acredita que o Celso Pitta e o Daniel Dantas vão permanecer presos? Pois, se existe uma bancada inteira de deputados federais se borrando de medo das escutas telefônicas da Polícia porque foram financiados pelo banqueiro corrupto. Essa é a gente que nós colocamos em Brasília! E se déssemos um basta no nosso silêncio de carneiros mansos? Podemos gritar: Chega! Não voto mais em vocês! Vocês não merecem que eu lhes dê tanto poder! Só voto em candidato que abrir mão do salário! Chega de propina e de corrupção! Quero meu dinheiro de volta! Quero trabalho decente, não quero bolsa-esmola! Quero estudar com qualidade, não quero entrar pelos fundos! Eu pago impostos, logo, vocês são meus empregados! Ponha-se no seu devido lugar! Assim, talvez, poderíamos chegar perto do que é cidadania. Não seríamos conduzidos mansamente para o abate ou passivamente para a tosquia.
O nosso silêncio é um cheque em branco para os mal intencionados. A nossa crítica ao poder é sempre construtiva porque somos os verdadeiros detentores do poder; e, no mínimo, exigimos a exposição da verdadeira face daqueles que exercem este poder em nosso nome, em todas as suas instâncias e em todas as instituições. Portanto, não se cale! Vamos nos expressar como pudermos: pelas ruas, pelas igrejas, pelas sociedades, pelo teatro, pela dança, pelo gesto, pela palavra, enfim! Caso contrário, vamos engolir os nossos sapos! Seremos sempre vítimas da nossa mansidão e não merecemos o direito de falar.
Pensem nisso!

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Nós não somos iguais, não!


Caros amigos, eu ainda consigo me admirar com a capacidade que os políticos têm de conviver com uma situação como essa que envolve a nossa CPI do DETRAN. Se fosse comigo – eu acho que jamais será comigo! -, eu já teria morrido de vergonha. Saberia que por onde passasse as pessoas me olhariam e cochichariam “olha ele aí”. Saberia que na casa de todos estariam escancarados, nos jornais e na televisão, os atos que pratiquei e que não são nada decentes. Eu morreria de vergonha diante da minha família, de meus filhos. Como é que eu encararia os meus amigos? Como é que eu encararia a moça do caixa na padaria? E os meus vizinhos? Como seria uma reunião na Sociedade que freqüento? Como seria o cafezinho com os camaradas escritores? Pensei um pouco a respeito e cheguei a seguinte conclusão: uma pessoa só consegue suportar uma situação como essa de duas maneiras: se ela for um tremendo cara-de-pau ou se conviver entre pessoas que são iguais a ela. Um ladrão não tem vergonha de outros ladrões. Um vigarista não se envergonha diante de outros vigaristas. E me preocupei mesmo foi quando pensei que talvez essa turma ache que eu sou igual a eles; e que, portanto, poderiam conviver comigo como se nada tivesse acontecido.
E se eu estiver certo, então esse bando - e outros políticos da mesma cepa - me deixam menos indignado pelos desmandos que eles cometeram que pela perspectiva de que eles acreditem que somos iguais. Definitivamente, nós não somos iguais, não! Pois, essa escória tem de ser varrida definitivamente do cenário político brasileiro. Os homens e mulheres de bem deste país precisam unir-se em torno de uma bandeira de civilidade e justiça (não pensem que falo de algum partido político, não confio em nenhum deles), sob pena de serem tomados por iguais a essa corja. Os homens de bem precisam aprender a governar o governo, como diria o amigo Canabarro. Que tal uma nova campanha: “Nós não somos iguais, não!”. Mostraria o bom cidadão, decente, patriótico e correto. Um brasileiro diferente, que sirva de modelo a todos, principalmente às crianças. Que possam orgulhar-se de dizer que são honestas; que não usam pirataria por que isso incentiva o crime; que não compram auto-peças roubadas por que alguém pode ter morrido por causa delas; que não se escondem atrás da máscara de usuário de drogas por que é isso que faz o tráfico; que não usam artimanhas de suborno e de corrupção; que respeitam o tráfego e não usam o acostamento como pista; que não furam o sinal vermelho e não param em fila dupla; que não furam fila de banco ou qualquer fila, etc. Gente assim existe, são muitos, mas são tão silenciosos. Pois, precisam estar orgulhosos de ser como são e gritar a plenos pulmões: “Nós não somos iguais, não!”. Que beleza de campanha seria!
Pensem nisso!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Terra doente.




Para quem não sabe a Terra está doente! Salve-se quem puder - ou melhor, se pudermos, salvemo-nos unidos. Foi acionado o botão vermelho e tocada a sirene de aviso: temos menos de cinqüenta anos para reduzir pela metade a emissão de gás carbônico céu acima. Se isso não acontecer, nós, Homo(nada)sapiens (sábios ou não) e toda a biodiversidade vamos para o beleléu respirando só fumaça.
Acomodados com as facilidades trazidas pela tecnologia, esquecemos quase sempre, que o planeta está doente, está febril. Os dinossauros foram alvos de extinção há milhões de anos; mas, agora, a bola da vez é uma espécie chamada: humana. É comum vermos na televisão, propagandas melodramáticas e apelativas de ongs que nos convidam a repensarmos nossa relação com a mãe Terra. Essas chamadas martelam e ecoam nas nossas cabeças, e fazem-nos refletir (às vezes não) sobre o nosso futuro; mas, infelizmente, desaparece feito mágica quando o próximo bloco da novela ou do enlatado de “roliúde” recomeçam, ou qualquer outra coisa que julguemos mais importante. Ou seja, enquanto o problema da poluição não nos tocar a saúde ou ao bolso serão só chamadas de alerta para os outros.
As soluções? Deixar de ver novela e filmes? Ora, não cheguemos a tanto! Se bem que ninguém perderia grande coisa. Mas, as soluções são várias: trocar o carro pelo transporte coletivo ou pela bicicleta, já é uma grande coisa, ao menos para o caos do trânsito; não jogar lixo na rua, além de ecologicamente correto é também sinal de educação; fazer coleta seletiva; limpar a própria calçada sem esperar que a prefeitura o faça; não queimar; não desmatar; plantar árvores; tratar o esgoto da cidade; consumir menos; optar por produtos biodegradáveis e com menos embalagens; levar a própria sacola de volta ao supermercado... São todas soluções primárias, pequenas e estão ao alcance de todos. O problema é que quando estas soluções ameaçam o nosso conforto individual, surgem então as célebres frases: “isso é problema do governo”, “que se dane a sustentabilidade”, “quando o mundo acabar, não estarei mais aqui”, “sozinho não posso fazer nada”; e a nossa displicência humana põe em cena a nossa própria condenação.
Li recentemente que São Paulo tem expectativa de vida menor em relação a outras regiões do Brasil em 1,5 anos devido à poluição; nós, aqui na terrinha, em breve chegaremos lá. Um ser humano produz, em média, 3,5 quilos de lixo por dia, o mundo aquece cada ano mais e o caos se estampa pouco a pouco (ou talvez até depressa demais). Como será o nosso fim? Quanto tempo demorará para chegarmos ao fim? Quando vamos realmente nos conscientizar do tamanho do problema? Não é utopia achar que se esta atitude começar de você, de mim, ou do seu vizinho a Terra estará menos doente. Pois, levante-se, comece!
Pensem nisso!

quinta-feira, 12 de junho de 2008

"SOLILÓQUIO e outras histórias curtas"




Aos caros amigos comunico o lançamento do meu mais recente livro: "SOLILÓQUIO e outras histórias curtas". A sessão de lançamento e autógrafos será na Fundação Cultural de Canoas (antiga Estação do Trem) , na noite de sexta-feira, 13 de junho, às 20h.


Trata-se de um livro de contos (que eu prefiro chamar de histórias curtas, conto mesmo é lá com o Machado de Assis) com 120 páginas, precinho de só R$ 10,00, em edição do autor, com apresentação do jornalista, poeta e escritor Canabarro Tróis Fº.






"... Quanto tempo fiquei inconsciente não sei. Escutei vozes ao meu redor, “... as crianças novamente, é a loucura...”, pensei. Não! Essas eram vozes adultas. Homens. O que falavam? Não conseguia entender, era uma língua do deserto. Difícil abrir os olhos. Alguém levantou-me a cabeça gentilmente e despejou-me na boca um pouco de água. Água! Água! Oh, Deus! Que benção é a água! Sem gosto, sem cor, sem odor, mas, se alguém me perguntar sobre o que é água, não existe resposta mais piegas e mais verdadeira: é vida! Abri imediatamente os olhos, só pude ver o contorno de um turbante profundamente azul. Na semi-inconsciência, lembrei-me dos trabalhadores berberes e de seu grande temor: Tuareg! O homem deu-me mais água. Agarrei-lhe a mão com avidez, ele desvencilhou-se e, falando francês, me fez entender que deveria ter calma e beber sem sofreguidão. O esforço pela água me fez desmaiar novamente. Deslizei, agora, mansamente para o inconsciente, amparado e sem sede. Anoitecia de novo, eu iria viver...".

Fragmento do conto Tuareg.



Haverá, ainda, uma sessão de autógrafos na Feira do Livro de Canoas, na barraca dos escritores da FUNDACAN, no dia 02 de julho, quarta-feira, às 17h., no calçadão do centro de Canoas.



Espero por todos.



Gerson L. Colombo

terça-feira, 29 de abril de 2008

Sonho de infância.


Julinho tem oito anos, mas aparenta ter cinco. Ele é amarelado, raquítico, de crescimento ruim para a idade; ainda assim, no meio do rosto esquálido, tem um par de olhos vivos, espertos, como os olhos de um rato, ágil nas manhas da sobrevivência. Brinca no meio da rua, quase sempre está sozinho; pés descalços, roupa imunda, cara suja, olhos remelentos, nariz sempre fungando; dá uma corridinha e puxa as calças largas para a cintura. É uma criança triste e solitária.
Mora no meio do beco sórdido, num barraco de madeira de um cômodo só. Mora com a mãe e outros três irmãos: uma menininha de cinco anos, outro de três e outro que ainda chupa o seio mirrado. Dormem todos na mesma cama desde que o companheiro atual da mãe foi levado pela PM. Antes disso, só o homem dormia na cama com a mulher; eles, as crianças, dormiam no chão, sobre uns trapos improvisados que eram seus colchões. Dormir no chão era frio, duro e ele tinha medo das baratas. Não gostava daquele homem. Ele batia na mãe, vivia bêbado; e quando a mãe não estava, botava-o para fora e ficava só com a irmã menor trancado em casa. Julinho colava o ouvido na parede do barraco e escutava o homem gemendo e fungando, até a irmãzinha começar a chorar. Além de tudo, aquele homem roubava seu lugar na cama quente da mãe.
Julinho não estuda, não faz nada. Sente uma fome constante e queria dormir num colchão só seu. A mãe o põe para fora de manhã cedo e manda que só volte à tardinha; e que tenha comido pela rua, porque em casa não há o que sustente a todos. Ele nunca se aventura muito longe de seu beco, perambula pelas redondezas. Sabe que alguém vai lhe dar o que comer, não sabe quem, não sabe onde; mas, como um rato, instintivamente, sabe que vai comer. Quase sempre está sozinho, mas ele não se importa; pelo menos, não terá de dividir com ninguém a comida que encontrar. Corre pela rua falando alto, alheio as pessoas e ao mundo a seu redor; corre montado num galho seco que é seu cavalo, de espada na mão, assim como o mocinho mascarado que viu num cartaz pregado na porta de uma loja de filmes. As outras crianças que encontra não lhe interessam, não faz caso delas. Nenhuma delas sequer olha para ele, nenhuma quer brincar com ele.
Volta para casa e já é quase noite. No meio do beco, em frente ao barraco, está parada uma Kombi branca com alguma coisa escrita na porta que ele não sabe ler. Dentro do barraco há um PM e umas outras pessoas. A mãe está chorando sentada a um canto. Ele acha graça na cara de pateta da mãe. Uma das moças vem falar com ele, diz que é de um tal Conselho Tutelar e que veio buscar a ele e aos irmãos para morarem numa outra casa, mas que a mãe não pode ir junto, que eles ficarão todos bem, que irão tomar banho e comer todos os dias. Julinho olha para a mãe apatetada e para o barraco imundo, volta-se e pergunta à moça se vai poder também dormir numa cama só sua. “Vai tomar banho, trocar de roupa, brincar, jantar e dormir numa cama bem limpinha”.
Julinho vai feliz dentro da Kombi, já não pensa mais na mãe que ficara chorando sozinha no barraco sem luz. Está aliviado, sorri satisfeito, até que enfim, vai poder dormir numa cama com colchão. Um colchão só seu,... só seu.

segunda-feira, 31 de março de 2008

Como não criar bicho fera.


Vi um jovem mirrado de dezesseis anos, acorrentado feito bicho fera, assassino confesso de, pelo menos, doze pessoas, algumas com crueldade. Ele é frio, não apresenta remorso algum e, falando com seu advogado, disse: “O senhor veja aí o tempo que eu preciso ficar aqui. Não quero ficar mais que o necessário.”, com isso mostra total alienação em relação à gravidade do que cometeu. É preciso estômago para matar um ser humano e esse tem. Como ele chegou a isso? Onde ele se desviou da raça humana e tornou-se essa besta feroz e sem escrúpulos? Não sei o seu nome e não quero saber, e a mim pouco importa a sua sorte, desde que não volte para as ruas. Acho, pelo visto, que é caso perdido, não acredito em recuperação de sociopatas. E a culpa de tudo isso não é do Estado, não é da sociedade, é da família que não entendeu a responsabilidade de educar-se um filho.
Quantas lágrimas ainda serão vertidas até que as famílias entendam que educação é dever de pai e mãe e não da escola? E que isso não depende de classe social ou padrão cultural? Não conheço ninguém que não tenha preocupação com seus filhos em relação ao uso das drogas de abuso, notadamente quando esses são adolescentes. Então, por que tantos jovens estão na delinqüência? Porque é justamente aí, nesta fase da vida, que a preocupação dos pais ganha contornos dramáticos, pois é quando a maioria perdeu o controle sobre os filhos. E se fazem cegos e não querem ver, porque é mais fácil fingir que não sabe do que tomar uma atitude: “Meu filho nunca faz nada de errado, são as más companhias”. Talvez porque a educação tenha se baseado num processo de barganha: “Faça isso direitinho que te dou um brinquedo; vá a aula todos os dias que te dou um carro novo,...” Não existe receita para bem educar os filhos. É preciso coragem para dizer não, disciplina constante, exemplificação própria e uma boa dose de amor e desprendimento. Criar filhos sem essas regras pode até não torná-lo um homem (ou mulher) sem caráter, mas vai depender de sorte, da índole que eles tragam do berço, e ninguém quer jogar com a sorte quando se trata do futuro da prole. Pais que não passam aos filhos valores morais que dêem sentido à vida não lhes dão nenhuma perspectiva de futuro. Hoje, a educação, na maioria das famílias, baseia-se na construção de um grande homem, um grande profissional, um grande político, um homem de posses e diplomas, quando deveria voltar-se para a formação de homens de bem. Coragem para assumir a educação dos próprios filhos, talvez seja essa a receita para não criar bicho fera.
Pensem nisso!


segunda-feira, 24 de março de 2008

E aí, já aprendeu a votar?



Caros amigos, impossível não voltar ao tema, mas acontece que o nosso futuro depende dele,... E aí, já aprendeu a votar? Pergunta difícil, não é? Ainda mais quando a gente, nem ao menos, lembra em quem votou. Pois, este é mais um ano de eleições para prefeitos e vereadores; vamos escolher as pessoas de quem vamos reclamar pelos próximos anos. Sim, sempre reclamamos dos governantes. Só não falamos mal do Tancredo Neves porque morreu antes da posse. E vamos continuar insatisfeitos, porque o problema não está só no eleito, está também no eleitor. Afinal, o que esperar de um povo que valoriza o jeitinho, a malandragem e não o esforço? Que prefere o esperto e não o sábio? Que admira o vencedor do “Big Brother”, mas não sabe quem foi Guimarães Rosa? Que finge dormir quando um idoso ou um deficiente entra no ônibus ou no trem? Que estaciona seu carro de qualquer jeito sem se importar se outro pode estacionar ou, ao menos, sair? Que sonega e rouba do Estado tudo o que pode e, quando pode, sonega e rouba o que não pode; e, depois, reclama da falta de segurança e saúde públicas? Que despreza a leitura, a cultura e a instrução; mas aprecia o horóscopo, a crendice e a superstição? Afinal, o que esperar de um povo que aceita o suborno da cesta básica para votar em alguém?
Pois, o país só vai mudar se o povo mudar; se reformar a si próprio para depois reformar a sociedade. Políticos não fazem concurso público comprovando capacidade, inteligência e idoneidade; ele ganha votos, o meu voto e o seu voto. A esperança, talvez, esteja no voto do menor eleitor, são ainda idealistas puros, sem a contaminação pelos vícios morais da sociedade adulta. Ah, se o povo soubesse a força que tem. A força da opinião pública, que o político depois de eleito despreza, mas sempre lisonjeia; porque essa opinião do povo é o terreno firme debaixo de seus pés. O eleito não se moverá, não se distanciará das suas propostas e promessas se a opinião do povo for uma rocha. Nós, o povo, somos o Estado, por isso somos uma República, não dobramos a coluna para nenhum monarca; precisamos de governo e não de governantes. Portanto, cidadão eleitor, seja firme, seja íntegro, não se venda; depois exija, fiscalize sempre, não se cale. Talvez aí, tenhamos aprendido a votar.
Pensem nisso!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Passividade bovina.


Caros amigos, Nietzche disse qualquer coisa como a raça humana possuir comportamento bovino; não pensa, precisa ser conduzida e aceita docemente o abate. O comportamento do povo brasileiro, durante esta gravíssima crise moral e institucional que atravessamos, parece confirmar o pensamento do filósofo alemão. Indolentes e temerosos, eis o que somos. Indolentes, por que perdemos nossa capacidade de indignação diante de tudo que está aí. Não nos chocamos mais com a corrupção endêmica que assola todas – eu disse todas – as nossas instituições. Temerosos, por que, frouxos como somos, temos medo de perder as benesses que o Estado paternalista nos dá: bolsa-escola, bolsa-família, vale-gás, vale-transporte e por aí vai. Isso tudo é esmola governamental –desviada do objetivo o mais da vez – pela qual o poviléu enche de votos a camarilha governamental.
Não se pode dizer o que é pior, se o eleito ou o eleitor; eu não tenho dúvidas que esse Congresso que aí está, mais sujo que pau de galinheiro, metido até o nariz na sua própria sujeira, será reeleito. E o nosso bom, inocente - e alienado - metalúrgico presidente? Esse nunca soube de nada. As coisas acontecendo na sua ante-sala e ele sem saber de nada. Oh, criatura inocente e boa! Só por isso, toma lá mais quatro anos.
O Vice-Presidente da OAB, Aristóteles Ateniense, disse que a entidade “desistiu do pedido de investigação de Lula porque não pode confiar o julgamento ao Congresso carcomido pela corrupção e porque o povo não tem demonstrado interesse pelo assunto”. O que será pior, um povo desesperado ou um povo indolente? Por muito menos que aí está, os caras pintadas derrubaram o Collor de Mello. Um povo desesperado derrubou a Bastilha, ceifou mil cabeças e instalou o terror; um povo indolente e temeroso encheu o Partido Nazista de votos, elegeu Hitler e permitiu que ele controlasse o Estado. O povo brasileiro precisa reencontrar seu caminho. Estamos perdendo terreno para os canalhas que elegemos e para o crime organizado. E isso tudo em nome da manutenção dessa ditadura constitucional que libera Hábeas Corpus aos malandros de gravata e cuida dos direitos humanos dos marginais, em detrimento dos direitos das vítimas que, ao final, seremos todos nós.
Pensem nisso!

segunda-feira, 3 de março de 2008

O créu (?)


Caros amigos, não gosto de televisão aberta, fujo dela sempre que possível. Tenho ranço com novelas, não suporto programas apelativos, não posso com velhas senhoras vestidas de adolescente fazendo programas juvenis, gordos apresentadores com velhas fórmulas viciadas para angariar audiência; o “Big Brother”, então, é o pior lixo cultural que anda por aí, não acrescenta um grama a mais no desenvolvimento moral e intelectual de quem o assiste. Mas, às vezes, a precaução falha e lá está a TV ligada, impossível não notar. Pois, dia desses, vi bestificado a “dança do créu”, e fiquei mais alarmado ainda com a franca ascensão da degeneração dos costumes. Um grupo de idiotas, travestidos de repórteres (sic), nas ruas de um subúrbio qualquer deste país, pedia às pessoas que fizessem a tal dança e, depois, riam dos infelizes às gargalhadas. Notava-se que eram pessoas de padrões cultural e social muito baixos; mas, pior que isso, foi ver as crianças, a maioria meninas, de seis, sete até uns doze anos, rebolando em gestos obscenos e até pornográficos. Pois, a dança do créu não é mais do que isso: um espetáculo inteiramente obsceno. Ato obsceno, até onde eu saiba, ainda é crime, e punível de três meses a um ano de cadeia. Quem chama esse “funck” lixo de música nunca ouviu James Brown ou Tim Maia - aquilo sim era funk. Quem chama isso de música popular nunca ouviu Paulinho da Viola, Chico Buarque ou Frank Sinatra. Isso sem falar em música mesmo, como Tom Jobim ou Ira Gershwin.
A família está mergulhada numa letargia perniciosa da qual não consegue acordar. Os jovens e as crianças se vulgarizam, suas condutas fogem ao controle dos pais que, como nunca tiveram as rédeas mesmo, apenas assistem com um riso estúpido e envergonhado na cara. A televisão ainda é um instrumento da democracia sobre o qual nós, pais e mães, temos o poder. Não falo de censura porque censura é coisa burra. Basta apertar um botão e o lixo cultural desaparece no ar. O problema é quando não temos mais capacidade de diferenciar o bom do ruim. Estamos criando uma geração de beócios aculturados e semi-alfabetizados. E é essa geração que vai nos governar em alguns anos (Deus nos acuda!).
Não sou moralista, não sou reacionário, mas ainda revolta-me o estômago quando vejo uma criança de dez anos rebolando com uma dançarina de bordel.
Pensem nisso!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A importância de cada um.


Dois leões fugiram do Jardim Zoológico. Na fuga, cada um tomou um rumo diferente. Um dos leões foi para as matas e o outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões por todo o lado, mas ninguém os encontrou. Depois de um mês, para surpresa geral, o primeiro leão a voltar foi justamente o que fugira para as matas. Voltou magro, faminto, alquebrado. Assim, o leão foi reconduzido a sua jaula. Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrou do leão que fugira para o centro da cidade quando, um belo dia, o bichano foi recapturado. E voltou ao Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para a floresta perguntou ao colega:
- Como é que conseguiste ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com saúde? Eu, que fugi para a mata, tive que voltar, porque quase não encontrava o que comer... !!!
O outro leão então explicou:
-Enchi-me de coragem e fui esconder-me numa repartição pública. Cada dia comia um funcionário e, como ninguém dava por falta dele, não me descobriam.
- E por que voltaste então para cá? Tinham acabado os funcionários?
- Nada disso. Funcionário público é coisa que nunca se acaba. É que eu cometi um erro gravíssimo. Tinha comido o diretor geral, dois superintendentes, cinco adjuntos, três coordenadores, dez assessores, doze chefes de seção, quinze chefes de divisão, várias secretárias, dezenas de funcionários e ninguém deu por falta deles! Mas, no dia em que eu comi aquele que servia o cafezinho... Estraguei tudo!!!


Texto original de Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Triste comédia urbana.


Aconteceu num dia de um dezembro quente e úmido, por volta das sete da noite – que, como se sabe, para dezembro ainda é hora do solaço da tarde - o trânsito, o caos de sempre – já que nunca importa a estação do ano é sempre um caos mesmo – Pois, numa rua lateral a uma rodovia, o sujeito Alfa – vamos chamar nossas personagens assim por que são estatísticas e estatísticas não têm nome - dirigia agressivamente o seu bólido entre outros bólides, como senhor absoluto da razão e do direito, ostentando a sua masculinidade através daquele símbolo fálico movido à gasolina.
As fachadas das lojas passavam por ele rapidamente com seus enfeites de natal e seus papais Noel, enchendo ainda mais os corações com aquele espírito natalino cheio de irritação com todos, angústia pelos presentes obrigatórios e ainda não comprados e o cansaço do fim de ano chegando ao limite do aceitável. Em um acesso da rodovia para a rua lateral, a vida do sujeito Alfa encontrou-se com a vida do sujeito Beta. Este saindo da estrada – diga-se que em altíssima velocidade também – atravessou-se no caminho do bólido de Alfa, fechando-lhe a passagem; e seguindo em frente sem tomar conhecimento do que se passou. O estresse imediato fez com que o nível de adrenalina de Alfa subisse assustadoramente e, como resposta instintiva, vem uma freada brusca, provocando o atravessamento do carro na via, lançando tudo que estava no banco traseiro sobre o motorista. Some-se a isso tudo as buzinas e os palavrões natalinos vindos dos outros carros, o resultado é um acesso de fúria de Alfa que, mesmo à distância, por entre outros automóveis, passa a perseguir Beta que ele, Alfa, entendia ser então um fugitivo, depois da injustificada agressão ao seu legítimo direito de ser o único a poder cometer imprudências. Quando consegue alcançá-lo, estão fora do tráfego intenso, longe da rodovia em meio a um bairro de ruas tranqüilas, bucólico, de trânsito pacato, de sossegadas casas de classe média, onde Beta, tendo deixado o carro na garagem, já está na sala de estar de sua casa.
Feito o preâmbulo da nossa desgraça, a triste comédia urbana, em um único ato, começa a se desenrolar quando a campainha toca. Beta abre a porta pela metade. Parado na varanda, de olhos injetados de ódio, está o sujeito Alfa, agora sem a armadura motorizada. “Pois não?”, “Como assim ‘pois não’?”, “Desculpe..., não entendi! Foi o senhor que me bateu à porta, deseja o quê?”, “Você não viu o que fez, rapaz?”, “Fez o quê? Quem é o senhor, afinal?”, “ Ah, essa é muito boa! Você jogou seu carro em cima do meu, rapaz. Quase provocou um acidente sério”, “ Ah, quase..., só quase? Quando e aonde foi isso?”, “Ora não se faça de besta, rapaz.”, “Olha aqui, para começar, cidadão, eu não sou rapaz e besta é sua mãe. Além do mais, não sei do que o senhor está falando.”, “Ah, não sabe é? Pois vou refrescar a sua memória.” Dito isso, Alfa tirou do cinto um revólver calibre .38, outro símbolo de sua masculinidade afrontada; e apontou-o para Beta, este, ao contrário do que esperava Alfa, não se comoveu, olhou com frieza para a arma, olhou dentro dos olhos de Alfa, como a investigar a alma do intruso; e, súbito, abriu o restante da porta, apontou com o dedo para o próprio peito. “Atira aqui, ó!”, “???”, “Atira logo, cara! É só puxar o gatilho. Que foi? Perdeu a valentia?”Alfa arregalava e piscava os olhos. A reação de Beta esfriou-lhe o sangue e a adrenalina sumiu de vez. Um leve tremor saiu-lhe dos dedos e refletiu-se no cano da arma. Lembrou-se da mulher e dos filhos que o esperavam em casa, lembrou-se dos presentes que ainda não comprara. “Atira logo, seu corno!” – gritou-lhe o outro, tirando-o de seu devaneio. O cano da arma agora oscilava ostensivamente. “Não vai atirar, machão filho da puta?” Beta, então, lentamente pegou a arma pelo cano e tomou-a das mãos de Alfa. “Isso aqui, ó, só dispara na mão de homem.” Alfa cravou os olhos no assoalho, estava envergonhado, sentia-se nu fora do carro, frágil e exposto; e, afinal entendeu, era apenas um homem comum. Beta então deu três passos atrás e amaciou o tom da voz. “Tá bem, tá bem, cara. Já passou! Entra um pouco. Vamos conversar.” Inocentemente Alfa cruzou o vão da porta e, já no interior da sala, recebeu um tiro certeiro no coração.
O sujeito Beta responde, em liberdade, há dois anos, um processo por homicídio simples, tendo alegado legítima defesa contra agressão injusta e invasão de domicílio.

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