Chegamos de viagem. Voltamos para
casa, a Zildinha e eu, depois de uma curta temporada em João Pessoa. Trazemos,
ainda, nas retinas, aquela beleza toda, aquela cor de esmeralda que é do morno mar
da Paraíba. Coqueiros, coqueiros, coqueiros altíssimos, ao longo das praias,
cheios de cocos, vejam só. A Ponta do Seixas, o ponto mais próximo da África de
todas as Américas. Eles dizem que se você tomar um gole da cachaça local e
firmar bem os olhos começa a ver as girafas e elefantes do outro lado, se não
conseguiu ver, é por que bebeu pouco. O pôr do sol no Jacaré, ao som do Bolero
de Ravel, é inesquecível. A feirinha de artesanato no Tambau é parada
obrigatória. Ruas limpas, trânsito ordeiro, árvores, muitas árvores. Mas, o
melhor de João Pessoa, apesar da beleza desbundeante,
são as pessoas, é a gente de lá que faz o melhor de lá. Educados, gentis,
interessados, hospitaleiros, e muito alegres. Uma alegria simples e
contagiante. Um povo sem afetação. Nós, aqui do sul, estamos meio desacostumados
da gentileza. Lá, recebíamos “bom dia!” de qualquer um que nos cruzasse o
caminho. Uma coisa, por aqui, cada vez mais rara. Bem, mas como tudo que é bom,
dura pouco, tivemos que voltar para nossa realidade.
Como num filme ruim, corta e muda de
cena. Chegamos ao Aeroporto do Galeão para conexão para Porto Alegre. A
gentileza de João Pessoa ficou em João Pessoa. A menina da GOL, na boca de
saída daquele tubo, só disse: “Conexão para Porto Alegre: 2º andar, ala C.” E deu!
Nenhum sorriso, nada de Boa tarde, Por favor me acompanhem, nem pensar.
Fomos largados no saguão externo do Galeão, abarrotado de gente, e nós em
conexão, sem saber onde é que tínhamos de ir. Bem, pergunta daqui e dali, sobe
e desce escada, e chegamos a tal ala C. Pois, é o Embarque Internacional. E nós
com bagagem de mão, vindos da Paraíba, só tentando voltar para o Rio Grande.
Nova inspeção da ANAC. A Zildinha já ficou. Claro, na bagagem dela estavam
perfume, desodorante, cremes de mão, de rosto, essas coisas todas e mais minhas
seringas para a insulina. “Isso não pode passar.”, “Mas, como? Estamos em
trânsito para Porto Alegre.”, “Não posso fazer nada! Regras da ANAC. Aqui é ala
internacional.”, “Nós não temos nada com isso, a GOL nos deixou sozinhos...”,
“Não posso fazer nada..., ou despacha de novo ou fica tudo.”, “Não tenho mais
bagagem para despachar, fizemos o embarque em João Pessoa. Estamos num voo
doméstico.”, “Não, não está! Esta é a ala internacional...”, enfim, perdemos a disputa, deixamos o
que tinha de ser deixado. Aliviaram a minha insulina.
E toca em frente, olha a
hora do embarque. Então, damos de cara com um brete que fazia voltas no salão.
Aquilo lotado de gente, umas trezentas pessoas. Era a imigração. Cacete! Eu só
quero ir para o Rio Grande. E o alto-falante berra: “Passaportes à mão! Todos
estão sujeitos a nova inspeção, de acordo com a Lei Nº sei lá o quê.” Como assim passaportes? Tá certo que o Rio Grande só
perde para o mundo em tamanho. Mas, que eu saiba, um cidadão rio-grandense não
precisa de passaporte para voltar para o seu pago. Masaaahhh! Era o que
faltava. E eu ali, suando feito porco, carregando bagagem de mão, mais brabo
que cavalo xucro. Pois, atravessamos reto o tal do brete esse. Chamei um
policial federal que ajeitava aquela fila, expliquei nossa situação, ele deu um
xingão na ANAC e na GOL, e nos mandou passar apara o embarque. Depois de tudo,
o voo ainda atrasou uns 40 minutos, nós escapamos do passaporte, mas a
tripulação do avião não. Tiveram que enfrentar aquele brete. Então, agora quem
é que vai dizer que não se precisa de passaporte para entrar no Rio Grande?