quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

E falando em Deus...


Como tem sido fácil e despreocupado falar-se em Deus. “Seja o que Deus quiser!”, “Se Deus permitir, ganho na loteria.”, “Guiado por Deus, dirigido por mim.”, “Se Deus quiser, passo no vestibular (hã, hã, não estude para ver).” Fácil como se Deus fosse o responsável pelo nosso sucesso ou fracasso. Acho isso injusto com a divindade. Confesso a minha dificuldade em falar Nele. Talvez, com a idade, tenha me tornado cético. Eu disse: cético, não ateu! Acredito que o progresso só vem com trabalho, estudo e esforço. Não creio na graça fácil, é preciso perseverança em tudo, até para lidar com Deus. Ele não é um ídolo material, palpável, como um astro de rock ou um guru sábio e místico. Sobre Deus não se sabe nada. Afinal, o que é Deus? Qual a sua essência? Voltaire dizia que “se Deus não existisse, teríamos de inventá-Lo.” É isso! Tudo o que entendemos de Deus é conjectura humana. Nem a Sua existência podemos provar. Ora, basta que se pense em uma coisa para que ela exista. Isso não é ceticismo, é fé raciocinada, contrapondo-se à fé cega, aquela do “acredita ou morre.” Fé significa confiança, e só confiamos naquilo que conhecemos. Portanto, Deus não é para ser acreditado, é para ser conhecido. Fico com Santo Agostinho: “Se me perguntam o que é Deus, eu não sei; mas, se não me perguntarem, eu sei.”

Muitos pregam a Deus como um conceito econômico: para se ganhar dinheiro é preciso investir dinheiro. Logo, o homem só será feliz (materialmente) se aplicar seus recursos (às vezes poucos) na sua “religião”. Ora, a presença de Deus em nós é muito maior do que ser agraciado com dádivas materiais como sucesso empresarial, melhor salário, melhor emprego, ou mesmo saúde. Outros, considerando-se ateus inteligentes atacam tudo que seja de natureza espiritual, como se aceitar a divindade fosse sinal de ignorância. Mas, Deus não é privilégio de nenhuma religião-instituição; e, certamente, não se ressente com aqueles que o renegam, pois o ressentimento é uma atitude meramente humana. Ele está acima de tudo isso, de ateus e de deístas. Os homens podem até incendiar o mundo em Seu nome, mas Ele não terá nada a ver com isso. A verdadeira religiosidade é apenas sentida, não tem dogmas, nem paramentos, nem formalidades exteriores, muito menos rituais. Portanto, pregadores, sacerdotes, profetas, ateus e agnósticos, quando falarem em Deus, façam-no com brandura, com equilíbrio e harmonia, possivelmente a verdadeira essência de Deus. Afinal, há tanta injustiça para se corrigir, tantos sofredores a socorrer, tantos desvalidos a se cuidar.

sábado, 8 de outubro de 2011

Ai, esse silêncio...



O silêncio não é só a ausência de som. Pode, às vezes, ser ensurdecedor. Há um silêncio na natureza, que precede as tempestades, e há o silêncio, sinal de estupidez, de estarrecimento diante do que parece inexorável. Esse é o incômodo silêncio que vem das ruas! Não como prenuncio de fúria, mas como sinal de perigosa acomodação. Esse deixa estar, deixa ficar. Esse silêncio do “nada mais importa!” desde que eu consiga o “meu”. O mesmo silêncio que serviu de fanfarra à festa da exploração da América Latina. O silêncio do servilismo que dobrou a coluna vertebral diante das intocáveis majestades que tudo podem. E que ainda continua servindo e dobrando-se. Continuam os desmandos dos coronéis do açúcar, do café e do gado, não mais nas figuras do “sinhô” e da “sinhá”, mas agora travestidos na política. Intocáveis, locupletados de prerrogativas legais exclusivas, servindo-se do bem público como se privado fosse. E, a tudo, a grande massa de povo inculta e aculturada, se cala. Sempre subserviente, temerosa de perder as benesses sociais que lhe caem ao colo. Nada mais que migalhas, as sobras da mesa farta. Onde a segurança pública? Onde a saúde pública? Onde a educação? Coisas de menor importância. Afinal, vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. “Oh! Não temos ainda uma Seleção confiável”. A grande preocupação! Calou-se, nos corações, a revolta cívica do esquecido Tupac Amaru. Simon Bolívar e San Martin são apenas figuras dos livros de história (pouco lidos) e Tiradentes foi apenas um "barbudo" que morreu enforcado.

Esse silêncio constrangedor é fruto do egoísmo das nossas individualidades. A solidariedade e a responsabilidade coletiva deveriam ser os motores que colocariam em funcionamento uma sociedade mais humanista. Hoje, Rui Barbosa é cada vez mais atual: De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”. O povo é quem deve governar o governo. Mas como? Se cada povo faz governo de seus pares.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

As baboseiras “internéticas”




Meus caros amigos, por favor, não me mandem mais mensagens que falem de conspirações em desfavor da humanidade. Morro de rir disso tudo e, no mais das vezes, nem leio tudo, vou até a terceira ou quarta linha, desisto e apago. Aceitem um conselho deste amigo velho: cresçam!!! Vocês já viram como quem te enviou a “notícia quente” recebeu de alguém que recebeu de alguém? Em qualquer roda de boteco tem um sujeito “que sabe das coisas” porque conhece o primo de um vizinho que é irmão do amigo do tio de um americano que fugiu do FBI porque descobriu que o “McDonald’s” é feito de minhoca. Ou que tem um sujeito no metrô com uma seringa infectada com a AIDS, que foi inventada pelos demoníacos americanos para acabar com o terceiro mundo, ou que foi o Pentágono que mandou atacar as Torres Gêmeas só para ter a desculpa de invadir o Iraque e o Afeganistão, ou que a família real britânica está por trás da morte de Lady Diana, e Adolf Hitler morreu de velhice na Argentina. O Chico Xavier mandou uma mensagem revelando a nova identidade do Emmanuel. Outras boas: nos EUA, usam mapas alterados e ensinam as crianças que a Amazônia não tem dono; os americanos, disfarçados de alemães, afundaram nossos navios para que o Brasil entrasse na II Guerra. Já viram como sempre são os americanos os vilões? O Hugo Chaves garante que eles são mesmo. De como eles querem dominar o mundo (como se já não fosse deles), no melhor estilo dos ratinhos Pinky e Cérebro, ou do Dr. Evil, aquele do Austin Powers?

A melhor de todas as “baboseiras internéticas” é a do sujeito que acorda numa banheira de motel, mergulhado no gelo, e encontra um bilhete que diz para ele correr para um hospital, pois lhe roubaram os rins. Essa é sensacional! Os caras que roubam os rins são uma gente tão boa, que não matam e ainda avisam o desgraçado que ele está... morrendo. É impressionante o que tem de besteira na Internet. Mais impressionante ainda é a quantidade de “bestas” que acreditam nessas asneiras. Mas, isso eu sei: é só preguiça de informar-se, de ler, de conhecer um pouco de história. E se você não passar adiante a vinte pessoas, seu cérebro, já diminuto, vai desaparecer. Deixo-lhes um pensamento, uma coisa interessante que achei na Internet (olha eu!), de um mestre do humor, o (americano) Groucho Marx: “Ele pode parecer um idiota e até agir como um idiota, mas não se deixe enganar, ele é mesmo um idiota!”.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Tempos áridos


Ai, como são sombrios e áridos os tempos em que vivemos. Não, não pretendo que este seja um texto depressivo. Valho-me, antes, da metáfora de que a madrugada é mais escura quando o sol está para nascer. Mas, é preciso estar alerta. Como pode estar acontecendo diante de nossos olhos? Bandos de crianças invadem lojas, hotéis, saqueiam, desafiam, protagonizam escândalos, abandonadas que são por quem deveria cuidar-lhes os caminhos, com carinho e educação. O mundo político e econômico em uma perigosa convulsão. Doidos armados atiram a esmo, explodem-se e levam consigo inocentes, no mais das vezes, em nome de Deus (?). Homens públicos que deveriam servir à Pátria desconhecem esse conceito grandioso e servem-se dela. Entorpecidos pelo álcool, motoristas matam e a impunidade lhes garante o sono. As estradas e ruas das cidades competem com os serviços de saúde pela sua cota de mortos. Por inépcia e inaptidão, abrem-se as portas dos presídios por que lá já não se recuperam os que faltaram com a civilidade. Justiça mal feita é injustiça. Não há heróis. Somos todos vítimas da brutalidade, do desrespeito ao mais elementar dos direitos, viver em paz, com ordem, com saúde, com trabalho digno, com esperança, enfim. Déjà vu. Está aberta a oportunidade para os rebeldes encantadores do povo. Já não são poucos os que sentem falta dos tempos duros de uma ditadura, os que sonham com a ordem estabelecida pela força bruta. Sofremos a dureza destes tempos acreditando que a paz há de vir pelas mãos firmes de um demagogo que desafie toda esta ordem de coisas sem sentido. Mas, a paz não pode vir de fora, ela tem de nascer em mim primeiro. Não se pode consertar o mundo todo sem antes consertar a própria casa. Se queres, amigo leitor, a tua cidade limpa, começa limpando a tua casa e a tua calçada, para que isso sirva de modelo aos que te vêem. Algo de bom deve ter sobrado em nós para superarmos a aridez e o vazio do consumismo. Que os nossos heróis, se um dia os tivermos, tenham mais caráter e menos dissimulação. Que espiritualidade se sobreponha aos interesses materiais. Espiritualidade, não religião, que essas também são fruto de escândalo, de ignorância e exploração. Busquemos, em nós e em tudo o que nos cerca, um pouco do bom, do belo e do verdadeiro. Um homem de bem se conhece pela trilha que deixou atrás de si.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Torcer ou não o pepino?


de pequenino que se torce o pepino”. Meus pais acreditavam nesse ditado e não davam folga. Na nossa casa havia limites para muitas coisas e esses limites acabavam se transferindo para a rua e para nossa relação com as pessoas, principalmente para os mais velhos, para professores, para autoridades, enfim, para quem não fosse moleque como nós. Havia outros ditos que eles também preconizavam, como: “Quem diz a verdade não merece castigo” ou “Se não for seu, não mexa, não pegue”. Meus irmãos e eu aprendemos, acho que funcionou, ao menos, que eu saiba, nenhum de nós restou traumatizado. Victor Hugo diz, em Os Miseráveis: “O crime do homem nasce na ociosidade da criança”. É duro, mas é real. Na atualidade, os problemas sociais em que jovens estejam envolvidos, grande parte tem origem na falta de controle por parte dos pais ainda na fase infantil. Limites flexíveis ou não impostos por pais e mães agravam a instabilidade, por si só já difícil, da adolescência.
A Constituição de 1988 tende a ser liberal por força do período de exceção que a antecedeu, isso se compreende. E compreende-se, também, que essa liberalidade acabe transferindo-se para as relações sociais, a família aí incluída. Mas, a euforia já passou, minha gente. Nenhuma liberdade pode ser desmedida sob pena de contaminar a sociedade com um “tudo pode” que é mais pernicioso que a falta de liberdade, pois acaba em libertinagem. Aristóteles acreditava que Democracia em excesso tende a Anarquia. Tomara que não! Muitas famílias, empenhadas na sagrada luta pelo “pão de cada dia”, transferem para a escola uma obrigação que é sua: educar sua prole. Com isso, querem criar uma nova alternativa pedagógica: a terceirização da educação familiar. Ora, escola não é creche para adolescentes. Professores não têm liberdade de impor limites a filhos que não os seus. E há liberdades que não podem ser toleradas. Crianças precisam, sim, de liberdade a fim de que descubram por si o mundo, mas há de ser liberdade vigiada. Um olho no gato, e outro olho no peixe. Crianças abandonadas a si mesmas, ou sem limites, engolem moedas, tomam veneno, tocam fogo na casa... e, quando crescem, não respeitam nada; quando não se atiram no mundo do crime e das drogas. Pais ausentes deixam vaga para os concorrentes. Depois, só resta chorar e dizer que seu filho era bom menino, mas envolveu-se com más companhias. Por isso, é sempre preferível dizer um “não” doloroso na infância que chorar a dura realidade de uma adolescência sem freios e socialmente deformada.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Lançamento de "Uma Candeia sobre o Alqueire"

Obrigado a todos!

A sessão de autógrafos de Uma Candeia sobre o Alqueire na 27ª Feira do Livro de Canoas, foi um acalanto.




















Quem tiver interesse em adquirir um exemplar, pode solicitar falando comigo mesmo pelo e-mail gersoncolombo@gmail.com


quinta-feira, 2 de junho de 2011

Os coitadinhos


Existe uma reação humana que considero interessante. A transferência da responsabilidade por nossas falhas. Já repararam como fazemos isso constantemente? Transferimos para os outros a razão das nossas frustrações. É mais confortável, menos compromissado, assim fugimos da realidade e dos desafios da vida que nos tornam adultos (tem gente para quem a adolescência nunca acaba, vai dos 12 aos 80). Quem costuma agir assim não conhece a si mesmo, não reconhece seus defeitos e não assume sua responsabilidade, nem sobre seus atos ou mesmo sobre a condução da educação de sua família. Quantas vezes eu ouvi: “Meu filho é drogado, mas é um menino de ouro. Foram as más companhias...”, sempre a culpa é dos outros. Ele nem quer saber se não é seu filho a má companhia para os outros. Isso quando não caem na paralisia do fatalismo, aceitando tudo como inevitável: “Não posso fazer nada para mudar o mundo.”, “Sou pobre, nasci assim, nada posso fazer para mudar a sorte.”, “Que fazer? É a vontade de Deus...” (a vontade de Deus?!”).

Lembrei-me do Evangelho de João, cap. 5, sobre o encontro de Jesus com o paralítico do tanque de Betesda. Há 38 anos o sujeito vivia preso a um leito. Estava à beira do tanque, onde qualquer doente seria curado se mergulhasse após um movimento das águas. Jesus lhe pergunta se queria ser curado, o homem não diz sim ou não, responde: “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada...”. A culpa, enfim, era dos outros que não o ajudavam. Mas, Jesus manda-o levantar-se, tomar o leito e sair andando. Pode ser mesmo que os outros fossem egoístas, mas a questão é que ele, na primeira oportunidade, fez foi lamentar-se. O “complexo do coitadinho” é que faz com que se reclame o tempo todo daqueles que não nos ajudam, daqueles que nos ferem, dos que nos abandonam. Ora, mesmo as pessoas a quem mais amamos, em determinado instante podem nos machucar. Nesse momento é preciso ser adulto, é preciso reconhecer que a vida de relação pode nos ferir. O queixar-se constantemente leva à paralisia das nossas vidas, quer seja pela frustração, pelo desânimo, pela raiva. A lição para o paralítico também nos serve: “Levanta, assume tua vida e segue em frente!”. Assuma suas responsabilidades, encare seus dramas, seja adulto, não reclame da vida à toa. E tem mais: não espere "afagos", pois, ninguém tem pena desses “coitadinhos”.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Afeto não tem sexo


Não sei nada sobre homossexualidade. Aliás, eu como todo mundo no mundo todo. Uma vez que, cientistas, filósofos, psicólogos, médicos debatem, pesquisam, dissecam (será?) e não têm uma palavra que seja definitiva sobre a origem da homossexualidade (parece que só os religiosos sabem, mas sua resposta é, convenhamos, muito simplista, envolve coisas como pecado, demônio, etc.). Temos, ainda, os puritanos raivosos que esbravejam com asco e só conseguem ver a questão do sexo, como se homossexualidade fosse sinônimo de promiscuidade e não houvesse devassidão entre heterossexuais. Ah, esses se esquecem do afeto. Entendo que homossexualismo não é doença para ser curada. Penso que se acerta ao afirmar-se que haja “orientação sexual” e não opção, pois que, ninguém escolhe ser “hetero” ou “homo”, assim como negro ou branco ou amarelo, o indivíduo nasce assim e pronto. Entendo, ainda, o homossexualismo como um processo natural, onde a pessoa tem uma psicologia diferente da sua anatomia, o que não significa que vá corromper-se em comportamentos imorais. A banalização do sexo, a pornografia, a bestialidade, a pedofilia, a agressividade nas relações, essas sim, são doenças graves em qualquer orientação sexual. A infância e a adolescência intoxicadas pela pornografia que vê e ouve, seja nos “reality shows” ou na grosseria das pseudo-músicas que tratam a mulher como “cachorras”, ora, com relação a isso os “puritanos de moral ilibada” nada falam. Por que o medo das uniões homoafetivas? Homossexuais não têm direito à cidadania? Penso assim: duas pessoas podem viver muito bem numa comunhão de afeto, respeito, lealdade, fidelidade, paixão (e amor, por que não?) independentemente do seu sexo ou orientação sexual. O resto é preconceito, é discriminação. Sexo não é só carne, pensar assim é empobrecer a magnífica sexualidade humana. Sexo é impulso da vida, quando respeitado é gerador da afetividade, respeito e amor, as grandes qualidades a serem conquistadas.

O Congresso não quer? Pois, o STF, em unanimidade, faz que se reconheçam juridicamente as uniões homoafetivas, com direitos previdenciários garantidos, respeitando a dignidade humana de uma minoria sem voz na maioria do Congresso, discriminados como se cidadãos não fossem. Isso não é um “ataque” à família. Meus filhos e netos só têm a ganhar vivendo num país cuja lei trata a todos como iguais. Aprendam, falsos moralistas: isso é democracia! Não tem nada a ver com sexo.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Não se julga um livro pela capa


Mesmo que não se admita, porque é politicamente incorreto, ainda nos dias de hoje, vivemos a separação da sociedade em “categorias”, onde as pessoas são distinguidas, umas das outras, pela cor de pele, por idade, sexo, orientação sexual, credo religioso, local de moradia ou pela conta bancária. Lógico, diferenças existem e isso há de ser positivo, pois é o somatório das diferenças que produz uma sociedade solidária, democrática e sem preconceitos, mas é o desrespeito às diferenças que sustenta as desigualdades sociais e acarreta injustiças maiores. Ora, somos diferentes uns dos outros e pronto! É a sociedade organizada na forma de Estado que deve desfazer essas diferenças visando à igualdade de acesso aos benefícios deste Estado. Aí começam os problemas. Mulheres trabalhadoras ganham menos que homens na mesma função; mulheres negras ganham menos que as brancas; deficientes não têm acesso à maioria dos prédios públicos; homossexuais são discriminados como promíscuos; jovens não são contratados por conta de inexperiência e os velhos não o são porque são velhos e considerados inválidos; a saúde pública, assim como a educação, é melhor para quem tem melhor posição social; isso tudo somado a outros tantos atos discriminatórios que, hipocritamente, são feitos de modo velado.

Penso que isso começa em casa e se reflete em sociedade. Educamos (mal) nossos filhos, através do exemplo próprio, para que julguem sem conhecer, tecendo “pré-conceitos” sobre tudo e todos, principalmente em relação aos diferentes do “nosso” grupo étnico e social. Erradamente julgamos o livro pela capa e não pelo conteúdo. Ora, eu não preciso “ser igual a ti” para ser “tão bom quanto tu”, se é que tu és bom; posso ser eu mesmo, assim como sou, com todas as diferenças evidenciadas entre nós e possuir qualidades, talvez melhores do que as que tens. Essa a grande lição com a qual devíamos educar as crianças, seria o fim do “bullying”, das discriminações, dos crimes contra os diferentes e da desigualdade. Mas, numa sociedade em que “ter” é mais importante do que “ser” a educação será sempre colocada em segundo plano, a educação moral, então, nem se fala nela. Uma lástima!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Espetáculo da Violência


Ainda ecoam, na memória dos que sobreviveram, os tiros disparados nas salas da escola no Realengo. Ficarão, por certo, cicatrizes mais profundas que as da pele. Impossível não escandalizar-se, difícil de esquecer e perdoar. Ali está a expressão máxima da violência que nos oprime. Uma violência estúpida dirigida a crianças inocentes, e dentro de salas de aula, que deveriam ser santuários em qualquer língua e para qualquer religião. Talvez não seja possível associar este fato com a violência generalizada que assola o país, normalmente ligada ao comércio de entorpecentes, o que, por si só, já é violência suficiente. Mas, existe hoje, nos meios de comunicação, uma banalização da agressividade e do crime levados a todos como o espetáculo da violência. Mesmo os desenhos animados são absurdamente violentos. O crime, transformado em espetáculo, não serve somente para difundir a notícia, presta-se ao aumento nos números da audiência que cada emissora almeja na luta com as concorrentes. E, infelizmente, creio, serve para criar a imagem do anti-herói. Qualquer criança é optada pela agressividade e vai internalizando a violência. Os super-heróis, quando não matam, arrasam tudo ao seu redor, são solitários, cheios de conflitos interiores, quase sempre fracassados em sociedade e em família. O adulto que sai daí, estamos começando a ver pelas ruas, principalmente atrás do volante.

Conserto para isso há? Para a mídia, talvez um auto-policiamento, como escritor sou a favor de uma imprensa livre, mas com responsabilidade. Para a sociedade, bato sempre nas mesmas teclas: educação e disciplina. Mas, começando dentro da família. Um processo intrínseco, de dentro para fora. Quem educa é pai e mãe, não é a professora. Pais e mães devem educar e impor limites com amor e sabedoria, mas, sobretudo, devem educar pelo exemplo. O rapaz criminoso do Realengo, além do problema mental evidente (ninguém que seja sadio mentalmente comete uma chacina daquelas), era a figura típica do resultado de um lar desajustado. Tanto que nenhum familiar foi reclamar seu corpo para enterrá-lo.

A sabedoria está em tirar-se lição até do momento de desgraça. Quais caminhos seguiremos agora? Os professores não sabem como lidar com a violência, não foram capacitados contra o “bullying”, a manutenção das escolas é precária, como então cuidar da segurança dos alunos contra psicopatas armados? Descobrimos que estamos indefesos. Que fazer agora? Vamos cobrar de quem? Acho que de todos nós, a sociedade, o governo e o povo que o elegeu.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Eternamente Cleópatra


Em seus aposentos no palácio em Alexandria, na foz do Nilo, Júlio César, cônsul de Roma, desenrola um tapete que ganhara de presente. De dentro dele salta Cleópatra, rainha adolescente, fresca, cativante, escultural. O velho cônsul apaixona-se.” E junto com ele, todos os meninos como eu era. Quem poderia resistir? Cleópatra era Elizabeth Taylor. Aos 31 anos. Meu Deus! Aqueles olhos azuis..., ou seriam turquesa? Ou acinzentados? Aquela pintinha na bochecha... Liz Taylor, a última estrela. O filme era proibido. Burlei a vigilância do porteiro, que por sinal era meu avô, e me arrojei sala adentro, só para ver Cleópatra. O filme de 1963, do diretor Joseph Mankiewicz, com o Rex Harrison fazendo o velho Júlio César, o Richard Burton, era o bonitão do Marco Antônio, e ela, a diva, Liz Taylor era... Cleópatra. Dela, a Liz, eu já havia assistido “Um lugar ao sol”, com o Montgomery Clif, fazia uma adolescente meio sem sal, mas o filme é bom. Agora, Cleópatra foi um arraso. Na saída, eu ouvi alguns comentários de umas carolas dizendo: “Mas essa mulher era uma galinha! Dava para todo mundo”. Falavam da Cleópatra, eu acho! Ou queriam estar no lugar dela, afinal, eram carolas e, por isso mesmo, reprimidas. E a Cleópatra Taylor passou a perturbar os meus sonhos adolescentes. Uns historiadores andaram dizendo que Cleópatra não era assim, como a Liz, que não era tão bonita e nem devassa, mas que tivera filhos com os ditadores romanos com intenção de estabilizar as relações políticas no Oriente Médio. “Que se danem vocês, seus historiadores xaropes! Vão se meter com seus livros!”. Assisti depois os filmes mais maduros da Liz, “Gato em teto de zinco quente”, “Quem tem medo de Virgínia Wolf?” e “Butterfield 8”, nos dois últimos ganhou o Oscar de melhor atriz. Era uma estrela. Não era só cara, bunda e peito, como a grande maioria é hoje. Era uma grande atriz. Agora dizem que Elizabeth Taylor morreu do coração com 79 anos. Prestem atenção: Uma estrela não morre! Liz Taylor está fixada no nitrato de prata da película cinematográfica para sempre. Saindo de dentro daquele tapete. Eternamente Cleópatra

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Nome aos bois



Chega! Alguém tem de pagar essa conta na justiça! Existem corpos em putrefação misturados à lama no meio das ruas extintas. Automóveis foram parar nos telhados das casas e a maioria das casas não existe mais. Hoje, quando escrevo esta crônica, temos em torno de 720 mortos, mas, pelo visto, o número vai chegar ao milhar. Muitos corpos jamais serão encontrados e milhares de pessoas vão penar sem abrigo certo por muito tempo. A enxurrada que varreu a região serrana do Rio é o tema de uma crônica de um desastre anunciado. No entanto, apesar da dimensão histórica, uma chuvarada assim só é desastre se tiver gente por perto. Os meteorologistas dizem que sempre foi assim, e não é só por causa do “aquecimento global”. Vivemos num país tropical (pelo visto, nem tão abençoado como se quer) e sempre estivemos expostos às intempéries. Mas, se sabemos que existem riscos, por que as pessoas constroem suas casas nas encostas, nos barrancos dos rios, enfim, em áreas de extremo perigo? De quem é a culpa, afinal? Bem, muita gente culpa a Deus, afinal, não foi Ele que fez a natureza como é? Outros culpam ao povo mesmo, pois, quem mandou querer morar em áreas de risco? Outros, ainda, querem culpar o Estado. Ora! Entendo que nenhum tribunal pode processar o Criador. Prerrogativas de quem tem endereço incerto e não sabido. Quanto ao povo..., bem, este já está cumprindo pena por sua imprevidência de morar onde não deve. Ah, tem o Estado! Mas, Estado, assim só, é um conceito muito vago e abstrato. E quanto se trata de responsabilidade penal, então, não se atinge ninguém. A Justiça (que também é Estado) deve colocar um fim nesta impunidade, dando nome aos bois, iniciando por responsabilizar as “excelências” que foram eleitas para reger e fiscalizar as municipalidades. Comecemos assim: quem autorizou as construções em áreas, notadamente, de risco? Se forem construções irregulares, quem não fiscalizou e não retirou os invasores (hoje vítimas)? É fácil andar de helicóptero, sem sujar os pés na lama, e prometer mundos e fundos aos desassistidos da sorte. Quero ver um prefeito com coragem (eu ia dizer outra coisa) para tomar decisões impopulares, as que não dão votos, mas que podem salvar vidas. Acho que não verei isso tão cedo. As desgraças ainda podem continuar, pois o verão não terminou. Mas, no ano que vem, pelo histórico, tem mais. E, com certeza, ninguém será punido.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Apoteose


Quase ao final do ano passado, em 29 de novembro, Mário Monicelli suicidou-se em Roma. Aos 95 anos, o cineasta, um dos “maestros” da comédia italiana, arrojou-se pela janela do Hospital San Giovanni, onde estava internado para tratamento de um câncer na próstata.

Apesar da obra vastíssima, a crítica internacional sempre o colocou num segundo plano, como um inferior a Fellini, Pasolini, Visconti, Bertolucci, Rosselini, Tornatore e até a Roberto Begnini. Uma tremenda injustiça. Desde 1935, quando lançou “I ragazzi della Via Paal”, com Alberto Mondadori, seu trabalho oscilou entre a comédia e o drama. Dirigiu com maestria os melhores da Itália: Vittorio Gassman, Cláudia Cardinale, Totó, Sophia Loren, Mastroianni, entre outros tantos.

Seu drama era sempre denso e a comédia, deliciosa. Para ele o riso do povo era uma arma letal. Deixou isso plasmado em 1971 em “A Mortadela”, com a ainda exuberante Sophia Loren, interpretando uma bela napolitana barrada no aeroporto de Nova Iorque por que tinha consigo uma mortadela gigantesca, presente para seu noivo; em 1992, com “Parente é Serpente”, com Tommaso Bianco, ele nos mostra o desinteresse das famílias pelos seus velhos e a superficialidade das relações de parentesco. Mas, sua melhor comédia é de 1966, com Vittorio Gassman, “L’Armata Brancaleone” (O incrível exército de Brancaleone), onde um pequeno grupo de vagabundos esfomeados, durante a Idade Média, parte numa aventura para tomar posse de umas terras no sul da Itália, entre encontros e desencontros, duelos bizarros, Monicelli nos dá uma demonstração de resistência tenaz dos pequenos, dos explorados e excluídos.

O seu melhor drama é de 1963 com Mastroianni, “I Compagni” (Os Companheiros), contando a emblemática luta de um intelectual desempregado, o professor Sinigaglia, na sua tentativa de organizar os trabalhadores de uma fábrica de Turim, no final do século XIX, quando a exploração do trabalho operário não encontrava nenhum limite. O filme proibido durante o período militar, representa o papel do intelectual engajado nos problemas de seu tempo e da sua sociedade, que entende que sua voz há de estar à serviço do povo, e não de interesses privados, mesmo que sejam dos gabinetes de governo, portanto, livre para criar como queira. A figura deste intelectual hoje está esvaziada, ele já não se insurge contra a corrente, pois sua arte é patrocinada pelo poder. Apesar de décadas passadas, o discurso é atual.

Monicelli fechou sua última cena num final apoteótico, da janela do quinto andar do hospital salta sobre o abismo que separa a náusea de uma existência medíocre do sentimento de ser realmente livre para viver as próprias escolhas. Só quem perde com sua partida somos nós, os cinéfilos.

Corta! Grazie, maestro, Monicelli!

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Sobre virtudes e caráter



O assunto Ronaldinho Gaúcho no Grêmio, como quer sua Diretoria, é tema do passado. E deve mesmo ser assim. Não se pode valorizar demais as coisas que não trazem nenhum benefício para a sociedade. No entanto, fica do caso uma lição a ser melhor analisada.

Todos os homens trazem em si a capacidade de adquirir qualidades morais valiosas que os façam melhores na vida de relação tanto com os outros quanto com a sociedade em que se vive. A essas qualidades morais dá-se o nome de virtudes, coisas como: ética, urbanidade, caráter ilibado, lealdade, integridade; enfim, as virtudes de um homem de bem. Mas, se é fácil descrever as tais virtudes abstratamente, a complexidade das relações humanas, as exigências da vida, no cinismo deste século, superficiais e supérfluas, tornam a prática destas virtudes uma atitude muito difícil.

As virtudes só se aprendem se tivermos o exemplo delas na nossa formação. Ninguém aprende a cantar se nunca ouviu música. Mas, o pouco que se tenha adquirido precisa ser conservado. O homem de bem precisa ser vigilante consigo mesmo, sempre. O menor deslize pode arranhar sua imagem perante o mundo. Como diziam os romanos: “Não basta à mulher de César ser mulher de César, é preciso parecer mulher de César”. Um caráter ilibado, um bom nome, são coisas difíceis de conquistar, em compensação são muito fáceis de perder.

As instituições são sempre superiores aos homens que as servem, mas figuras públicas deveriam cuidar melhor de sua imagem, uma vez que sempre acabam por servir de modelo a alguém. Seja de um astro dos campos de futebol que não se dá ao respeito descumprindo a palavra empenhada, até um ex-presidente que trata a coisa pública como se privada fosse, brindado por autoridades subservientes com benesses do Estado, como férias em área restrita e documentos a que não fazem jus seus familiares. É sempre lastimável ver o ser humano buscando mais o “ter” antes de “ser”. O tesouro do homem está onde está seu coração. Aos irmãos Assis Moreira, pois, só se pode desejar dinheiro, todo o dinheiro que possam amealhar; e ao senhor ex-presidente, ainda no deslumbramento do poder, que tenha boas e longas férias.

E não se fala mais nisso, são coisas pequenas de gente pequena.

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