quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Nenhum homem é uma ilha

               





            A frase título é de um poema do inglês John Donne. “Nenhum homem é uma ilha; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram também por ti.” Inspirado neste belíssimo e icônico poema do séc. XVI, Hemingway escreveu seu clássico “Por Quem os Sinos Dobram”, Thomas Merton escreveu “Homem Algum é Uma Ilha” e o imortal Raul Seixas compôs a música “Por Quem os Sinos Dobram”. Um poema que nos faz lembrar o que disse Aristóteles em “A Política”: “...o homem é um animal social. O homem que por si só se basta, não é homem; ou é um deus ou é fera.” Pois, então, nascemos para viver em comunhão com os outros, nascemos para uma vida de relação. Então, por que a solidão é cada vez mais presente e constante? A afetividade é mais e mais distante?       

            As relações virtuais e a tecnologia substituíram o afeto do toque e da companhia física. Poucos são os que têm paciência de escutar sem atropelar o outro com seus próprios problemas. É fácil encontrar-se grupos de pessoas sentadas à mesma mesa, em silêncio permanente, enquanto os dedos, sem parar, tamborilam o teclado do celular. Nem os garçons são mais chamados para aquela ajudinha com a fotografia do grupo, o “pau de selfie” substitui o braço amigo. Inumeráveis amigos no “face”, mas nenhum ombro para chorar. As poltronas eletrônicas substituem as mãos do massagista, onde regula-se o tempo e a pressão para movimentos repetidos pelo corpo, sem contato humano, ... em absoluta solidão. Conquistamos tecnologias e nos perdemos uns dos outros. Os fones metidos nos ouvidos nos desobrigam das gentilezas dos sorrisos ou dos “Bons Dias”. É o meu mundinho privado. Afastem-se todos vocês que não fazem parte do meu diminuto círculo de afeições! Cada vez mais diminuto. Substituímos a alteridade, o respeito pelo outro, pela indiferença. Mas, ainda é a voz humana que acalma, um abraço é sempre acalanto, um sorriso nos enche o coração de alegria. Se eu me dispuser a encontrar os outros, acabo encontrando a mim mesmo. Pode ser que nenhum homem seja uma ilha, mas, por enquanto, a humanidade é um imenso arquipélago. 

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