
Ainda ecoam, na memória dos que sobreviveram, os tiros disparados nas salas da escola no Realengo. Ficarão, por certo, cicatrizes mais profundas que as da pele. Impossível não escandalizar-se, difícil de esquecer e perdoar. Ali está a expressão máxima da violência que nos oprime. Uma violência estúpida dirigida a crianças inocentes, e dentro de salas de aula, que deveriam ser santuários em qualquer língua e para qualquer religião. Talvez não seja possível associar este fato com a violência generalizada que assola o país, normalmente ligada ao comércio de entorpecentes, o que, por si só, já é violência suficiente. Mas, existe hoje, nos meios de comunicação, uma banalização da agressividade e do crime levados a todos como o espetáculo da violência. Mesmo os desenhos animados são absurdamente violentos. O crime, transformado em espetáculo, não serve somente para difundir a notícia, presta-se ao aumento nos números da audiência que cada emissora almeja na luta com as concorrentes. E, infelizmente, creio, serve para criar a imagem do anti-herói. Qualquer criança é optada pela agressividade e vai internalizando a violência. Os super-heróis, quando não matam, arrasam tudo ao seu redor, são solitários, cheios de conflitos interiores, quase sempre fracassados em sociedade e em família. O adulto que sai daí, estamos começando a ver pelas ruas, principalmente atrás do volante.
Conserto para isso há? Para a mídia, talvez um auto-policiamento, como escritor sou a favor de uma imprensa livre, mas com responsabilidade. Para a sociedade, bato sempre nas mesmas teclas: educação e disciplina. Mas, começando dentro da família. Um processo intrínseco, de dentro para fora. Quem educa é pai e mãe, não é a professora. Pais e mães devem educar e impor limites com amor e sabedoria, mas, sobretudo, devem educar pelo exemplo. O rapaz criminoso do Realengo, além do problema mental evidente (ninguém que seja sadio mentalmente comete uma chacina daquelas), era a figura típica do resultado de um lar desajustado. Tanto que nenhum familiar foi reclamar seu corpo para enterrá-lo.
A sabedoria está em tirar-se lição até do momento de desgraça. Quais caminhos seguiremos agora? Os professores não sabem como lidar com a violência, não foram capacitados contra o “bullying”, a manutenção das escolas é precária, como então cuidar da segurança dos alunos contra psicopatas armados? Descobrimos que estamos indefesos. Que fazer agora? Vamos cobrar de quem? Acho que de todos nós, a sociedade, o governo e o povo que o elegeu.
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