terça-feira, 6 de julho de 2010

Saber ouvir

Saber ouvir é uma arte, mas não dessas que se nasce sabendo, com o dom dentro de si, é sim uma arte de se desenvolver através do tempo, maturando na personalidade à medida que se cresce. E esse “crescer” também nada tem a ver com tamanho ou idade, é o amadurecimento, é o tornar-se adulto, para o quê não há idade certa. Tem adulto de 15 anos e adolescente de 50, depende do que se viveu e sentiu; depende do quanto se é responsável. Amadurecer, pois, não é ciência exata. Para saber ouvir é preciso saber calar, silenciar o pensamento. Deixar de lado as afoitezas da vida. Sem pressa, mas também sem vagareza demais. É isolar-se no silêncio para ouvir melhor os sons que nunca se ouviu. É voltar a prestar a atenção aos sons que esquecemos de ouvir. A chuva caindo no telhado, o vento nas árvores, o silêncio da hora morta da tarde, os grilos no fundo da noite. Sons para os quais a cidade grande e o nosso correr pela vida nos fizeram surdos. E o mais importante, talvez, que não sabemos ouvir: o que outras pessoas têm a dizer.

Nossa incapacidade de ouvir o outro é a manifestação mais evidente das nossas prepotência, arrogância e vaidade. Sempre que alguém fala algo, nós não ouvimos, pois temos pressa em acrescentar aquilo que queremos dizer. Como se tudo o que dissermos seja melhor do que diz o outro. Por quê? Ora, por que o assunto dos outros é sempre sem graça. Por que poucos de nós conseguem ver alguma coisa além do próprio umbigo. A arrogância é uma máscara da inferioridade. Quem é verdadeiramente superior não é arrogante.

Quando se estiver ouvindo alguém, não se deve interrompê-lo, ou completar a sua frase, isso não é educado. Quem sabe aquele que nos fala só precise desabafar, contar alguma coisa para alguém? Ouvir, muitas vezes, é emprestar o ombro a um amigo, é consolar sem precisar dizer uma palavra. É preciso entender o paradoxo: um diálogo que é um monólogo. Basta estar ali, de ouvidos abertos, de alma desarmada e com vontade de ajudar. Nem sempre é preciso dar alguma coisa para se fazer a caridade, saber ouvir, consolando, pode ser ato de misericórdia e compaixão. Além de demonstrar educação. Pensem nisso.

Um comentário:

  1. Colombo,

    Perfeita a frase: "É preciso entender o paradoxo: um diálogo que é um monólogo.".

    Ouvir é uma grande virtude que nem a experiência ensina, somente uma postura consciente!

    Forte abraço!

    Livio Sabatti

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