quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Pois é..., passou.


            Não sou tão velho, tenho só “cinqüenta” anos (gosto do trema, sim), mas, de repente, comecei a ficar assim, meio saudosista. Fui um guri (tinhoso, dizia minha mãe) de muitos brinquedos: as árvores no quintal, o jogo do taco no meio da rua, campinhos de futebol onde ficava até escurecer, as pandorgas (que agora dizem: pipa) e  as bolas de gude (ah, as minhas “bulitas”) jogadas no terreiro sempre limpo e varrido onde eu também jogava pião, meu rifle “Winchester” era um galho. Usava guarda-pó branco na escola, onde, uma vez por semana, cantávamos o Hino Nacional. Sabia tabuada de cor e faço contas de cabeça até hoje. Conhecia todos os vizinhos da rua e todos diziam: bom dia, por favor, obrigado. Nossas casas tinham cercas de sarrafos e quando roubavam alguma coisa de alguém, era um escândalo comentado por dias. Nós fazíamos as refeições juntos e conversávamos à mesa. A mãe educava e o pai era figura presente e forte, mesmo sendo quase analfabetos isso não importava, afinal, eram o pai e a mãe. A televisão tinha que esquentar as válvulas antes de aparecer a imagem da “Família Trapo” ou dos “Perdidos no Espaço”. Geladeira era coisa rara e o telefone um luxo de classe média. Pois é..., passou. Hoje, as crianças andam com um MP-4 atolado no ouvido ou trancadas no quarto com seus computadores. Não ouvem ninguém, não sabem jogar bola, não sabem nem correr, odeiam sol e adoram um ar-condicionado. O computador comanda suas vidas, só se relacionam pelo Orkut e pelo MSN, não sabem conversar e gostam de viver uma vida virtual, inventada pela máquina e nela vivida. Fora do quarto, a vida é perigosa e tediosa. Talvez, por isso, tantos jovens adultos não sabem resolver seus problemas e temem deixar o lar paterno. Ir à escola é um sacrifício sempre compensado pelos pais ausentes. Os professores são os chatos que insistem que todos leiam ou aprendam a pensar, mas que infelizmente não podem ser deletados ou ignorados como no mundo virtual. Não há necessidade de pensar, basta agilidade para teclar e habilidade para dominar todas as ferramentas. Tentamos, a Zildinha e eu, educar nossos filhos nos padrões da nossa educação. Porém, permitindo o uso das novas tecnologias e ações virtuais, mas sem descuidar para que interagissem com o mundo verdadeiro, ou seja, subindo nas árvores, jogando bola, brincando de correr e sendo educados com os outros. Acho que conseguimos. Os filhos já são adultos e vivem as suas vidas, mas sempre que nos encontramos todos, comemos juntos e, sobretudo, conversamos. Penso que os pais precisam retomar a responsabilidade da educação dos filhos e buscar viver uma vida mais simples, onde o “ser” é preferível ao “ter”. Talvez aí, possamos ser menos arredios ao convívio social, indiferentes e despreparados para a vida. Pensem nisso.

Um comentário:

  1. Muito bom mesmo Gerson o teu artigo. Pena que já saiu O Aprendiz do mês de março onde o assunto principal é "Quem educa nossos filhos". Mas quero usá-lo em outra ocasião.
    Posso né?
    Um abraço

    ResponderExcluir

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...