segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

A frieza do relógio.




Raul Seixas cantava: “... a frieza do relógio não compete c’oa quentura do meu coração...”; tinha razão, não compete mesmo. O relógio frio marca o tempo que acabamos por fazer nosso inimigo. Aquele ponteirinho dos segundos é implacável; o tempo nos atropela, não pára para ninguém, a tudo consome; destrói as pretensões de onipotência da adolescência e, nos velhos, esvai o sonho da juventude eterna. Mas, se tempo é nosso inimigo, e se não podemos combatê-lo, por que não fazemos dele um aliado? Por que não aproveitar o que o tempo nos deixou de bom? Se o tempo é relativo, como ensina a física, a felicidade também é, como quer a filosofia. É preciso olhar para trás e não dar importância ao ruim, aprender com os maus momentos, buscando, porém, valorizar mais o bom e o belo. Felicidade é isso: o somatório de momentos felizes. Pois, a felicidade não é um lugar onde se deva chegar, e sim o jeito como se caminha até lá. Lembram-se daquela passagem evangélica que orienta a ajuntarem-se tesouros que a traça não corrói, que a ferrugem não consome e que o ladrão não rouba? Pois, os instantes de felicidade que estão no passado são as jóias deste tesouro que ninguém pode me tomar. Ora, se eu consigo fazer isso, guardar as coisas boas que passaram, o tempo será meu aliado, e eu serei menos amargurado, serei um sujeito mais grato, deixarei de ser o “maior sofredor do mundo” porque encontrei razões para celebrar a vida. Eu estarei sempre onde estiver meu coração. Outra coisa importante é esvaziar a agenda de coisas inúteis. Lógico, todo mundo sabe que viver é difícil e imprevisível, e muitas coisas não dependem de nós. Quanto às imposições da vida, é preciso ser adulto, encarando tudo de frente, pois não há o que se faça. Mas, não se pode viver só com obrigações a cumprir e problemas para resolver. Não é para isso que vivemos. A coisa toda é não fugir das responsabilidades como: contas a pagar, a profissão, os estudos, etc.; mas, é preciso marcar na agenda futura momentos que poderão trazer felicidade. Um tempo maior com a família, com as pessoas a quem amamos e que nos amam; um tempo para os amigos, que sempre estão lá, mas nós os negligenciamos – quem não tem amigos, que trate de fazê-los..., e logo – ou, quem sabe, um tempo de não fazer nada. O ócio abençoado e criativo. O certo é que se deve olhar o futuro sob a perspectiva de uma vida mais calma, sem expectativas demasiadas, sem sonhos, apenas com planos; uma vida mais humilde e mais simples, enxergando o tempo como dádiva e não um castigo. Aí sim, a frieza do relógio se aquece no coração. Então, não lamente o passado. Tudo é dádiva.

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