terça-feira, 30 de junho de 2009

Uma questão de fé.


Houve um tempo em que acreditei que as “religiões-instituições” - não a religiosidade - poderiam salvar os homens e o mundo. As religiões com suas hierarquias, seus dogmas descabidos, suas formalidades exteriores, suas prerrogativas políticas, seus homens e mulheres vaidosos e a sua fé cega fizeram-me um cético. Hoje agradeço muito por isso. Deus não tem nada a ver com a suntuosidade dos templos, com os rituais medievais, com os ricos paramentos e com as interpretações estapafúrdias e individualistas da Bíblia, da Tora, do Corão, etc. São os homens que devem erguer os templos em seus corações, são os homens que devem caminhar para Deus. Isso é religiosidade. Só a melhora do homem, feita por si mesmo, pode salvar o homem e o mundo. Houve tempo em que acreditei em fé como um sentimento humano que move os atos de Deus. Nunca funcionou comigo. Estupidamente fui ensinado a temer a Deus, eu me borrava imaginado a “face irada” de Deus, o “olhar severo” de Deus, imaginem o tamanho da “mão de Deus”. Quando criança, tentei mover uma pedra com a força do pensamento, carregando esse pensamento com toda a fé que eu tinha; resultado: não movi nem um grão de areia. E olha que eu estava treinando para mover uma montanha. Acho que eu não era uma criança muito inteligente, acabei acreditando que eu tinha algum defeito em matéria de fé. Mas, então, eu cresci, e, como adulto cético que eu já era, conheci outra concepção para a fé: o conhecimento que gera confiança, certeza e serenidade. Descobri que a fé, hoje serena, precisava nascer da dúvida que impulsiona e não da fé cega, do “acredita ou morre” que gera mais incertezas e materialismos que confiança. O ceticismo me leva a questionar, a tentar descobrir as causas de tudo, a raciocinar com o uso da lógica e da razão; e, ao descobrir os porquês, eu tenho o conhecimento que gera confiança e serenidade, enfim, uma fé inabalável porque não nasceu da crendice e da superstição. O objeto da fé não precisa ser visto, basta que se saiba da existência dele. O sol existe, eu sei disso sem precisar de fé. Mas, tenho “fé-certeza-confiança” serena que amanhã ele vai brilhar novamente. Hoje não me perturbo mais em saber se posso ou não mover montanhas. Descobri que a maior montanha é a minha própria ignorância. Hoje não temo mais a Deus, Ele não tem mais uma face irada, pois descobri que Ele é a Soberana Justiça, e isso basta. Minha fé é hoje do tamanho de um grão de mostarda, e quero construir o Reino de Deus em mim dia-a-dia com a confiança de quem aprende e a serenidade de quem sabe.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

“Vida louca, vida..., vida breve”.


             Vida louca, vida..., vida breve; já que eu não posso te levar, quero que você me leve”. Esses versos do Lobão, na voz do Cazuza, me vieram à lembrança quando vi uma certa reportagem num desses programetes sensacionalistas da TV. Pois, tragédias como essa queda do airbus da Air France tem um poder de comoção que outros eventos igualmente trágicos não têm. Centenas de pessoas morrem no trânsito diariamente, por exemplo, mas isso já não nos comove, banalizamos. Já um avião... Talvez seja porque é muita gente junta a morrer ou, talvez, porque isso reforça o medo que, lá no fundo, todo mundo tem de voar. Então, vem a tal reportagem, de tremendo mau gosto: tinha gente comemorando, isso mesmo, comemorando, por que não havia conseguido, sei lá por que cargas d’água, embarcar no fatídico vôo. Ora, deve ser uma sensação maravilhosa saber que você não entrou num avião que estava prestes a cair. No entanto, dar um  depoimento celebrando isso, e dizendo-se “abençoado” por Deus, é um desrespeito com as famílias das outras centenas de pessoas que morreram. Parece algo assim: Deus, que de justo não teria nada, prefere uns a outros dos ditos filhos seus. É cruel pensar assim. É injusto com Deus pensar assim. Só mostra ignorância e egoísmo. Acho que uma hora dessas é para se refletir sobre a efemeridade da vida, aliás, todos deveríamos ter plena consciência do quanto a vida é efêmera. Com certeza, viveríamos melhor. Cientes da brevidade de tudo o que vive, talvez, até no trânsito, que mata mais, seríamos mais respeitosos. Não seríamos tão arrogantes, autossufientes, orgulhosos e prepotentes. Entenderíamos que somos todos iguais, pois a única fatalidade a que estamos sujeitos é o túmulo, cedo ou tarde. O importante é viver. E não é o “quanto” se vive, mas o “como” se vive o que importa mais. E viver é aproveitar os momentos com aquilo que há de mais precioso, as pessoas a quem amamos, que também são efêmeras. Sim, precisamos ter a consciência de que tudo o que mais amamos um dia vai desaparecer, é a lei imutável do Universo. Não há injustiça nisso, há sabedoria, pois é igual para todos. Devemos celebrar a vida, e não lamentar a morte, por que a vida é sagrada e só por isso deve ser tão apreciada.

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