sexta-feira, 8 de julho de 2011

Torcer ou não o pepino?


de pequenino que se torce o pepino”. Meus pais acreditavam nesse ditado e não davam folga. Na nossa casa havia limites para muitas coisas e esses limites acabavam se transferindo para a rua e para nossa relação com as pessoas, principalmente para os mais velhos, para professores, para autoridades, enfim, para quem não fosse moleque como nós. Havia outros ditos que eles também preconizavam, como: “Quem diz a verdade não merece castigo” ou “Se não for seu, não mexa, não pegue”. Meus irmãos e eu aprendemos, acho que funcionou, ao menos, que eu saiba, nenhum de nós restou traumatizado. Victor Hugo diz, em Os Miseráveis: “O crime do homem nasce na ociosidade da criança”. É duro, mas é real. Na atualidade, os problemas sociais em que jovens estejam envolvidos, grande parte tem origem na falta de controle por parte dos pais ainda na fase infantil. Limites flexíveis ou não impostos por pais e mães agravam a instabilidade, por si só já difícil, da adolescência.
A Constituição de 1988 tende a ser liberal por força do período de exceção que a antecedeu, isso se compreende. E compreende-se, também, que essa liberalidade acabe transferindo-se para as relações sociais, a família aí incluída. Mas, a euforia já passou, minha gente. Nenhuma liberdade pode ser desmedida sob pena de contaminar a sociedade com um “tudo pode” que é mais pernicioso que a falta de liberdade, pois acaba em libertinagem. Aristóteles acreditava que Democracia em excesso tende a Anarquia. Tomara que não! Muitas famílias, empenhadas na sagrada luta pelo “pão de cada dia”, transferem para a escola uma obrigação que é sua: educar sua prole. Com isso, querem criar uma nova alternativa pedagógica: a terceirização da educação familiar. Ora, escola não é creche para adolescentes. Professores não têm liberdade de impor limites a filhos que não os seus. E há liberdades que não podem ser toleradas. Crianças precisam, sim, de liberdade a fim de que descubram por si o mundo, mas há de ser liberdade vigiada. Um olho no gato, e outro olho no peixe. Crianças abandonadas a si mesmas, ou sem limites, engolem moedas, tomam veneno, tocam fogo na casa... e, quando crescem, não respeitam nada; quando não se atiram no mundo do crime e das drogas. Pais ausentes deixam vaga para os concorrentes. Depois, só resta chorar e dizer que seu filho era bom menino, mas envolveu-se com más companhias. Por isso, é sempre preferível dizer um “não” doloroso na infância que chorar a dura realidade de uma adolescência sem freios e socialmente deformada.

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