quinta-feira, 27 de maio de 2010

Adolescência, os pais e o “bullying”


Era muito comum, no meu tempo de guri, na escola, alguém “tirar sarro de alguém”, “pegar para courinho”, “pegar alguém de gozação”. A diferença é que agora é em inglês, o “bullying”, e a coisa tomou notoriedade. Resolvia-se, mais ou menos, como hoje: aos socos. Ou seja, é um tipo de violência que sempre existiu, parece uma necessidade de afirmação ou faz parte da formação do indivíduo para a vida em sociedade: “mostrar ao mundo que sou valente”. É lastimável, é claro! Ainda mais agora, que a valentia de “sair na mão” foi trocada pela arma de fogo. Triste, mas é assim que é. Dificilmente alguém escapa de uma gozação dolorosa dentro de uma escola. O gordo é “bolão”, “baleia”. O muito branco é a “barata branca”. O negro é o “crioulo”, “neguinho”. As meninas, além dos demais adjetivos acima, ainda podem ser a “piranha”. O menino mais tímido é a “bichinha”. Muita gente superou essas ofensas e seguiram suas vidas, prósperas e felizes. Outros resolveram com os punhos e superaram também. Outros, no entanto, nunca superaram, mas o certo é que todos ficaram marcados para sempre, e penso que tanto o agredido quanto o agressor. Mas, afinal, por que somos assim tão cruéis? Oh, sim, até as crianças são cruéis!

Tudo passa pela formação da individualidade, pelo autoconhecimento. Conhecer quem sou “eu” depende de observar o “outro” e estabelecer as diferenças. Não falo em respeitar às diferenças, isso já é um segundo momento, quando existe maturidade do ser, e maturidade não tem nada a ver com a idade; falo em perceber que somos diferentes, portanto, aparentemente, não somos iguais. Ora, somos tão diferentes que, ao final, acabamos iguais nas diferenças. Parece “enrolado”, mas não é. Uma criança, por exemplo, aos poucos aprende a diferenciar-se da mãe, percebendo que não é um pedaço ou extensão dela, mas é outro ser individual. Percebe-se melhor essa formação do “eu” na adolescência, a terrível fase das transformações. O jovem se põe num combate feroz contra os próprios impulsos: amar ou odiar? Morrer de vergonha e, às vezes, não ter pudor algum; copiar seu ídolo em tudo, enquanto busca sua própria identidade. A explosão hormonal que acarreta a perda do corpo infantil com a mudança para o adulto que ainda não é. Ser auto-suficiente e, ao mesmo tempo, ser confuso sobre as decisões a tomar. To be or not to be”, ser ou não ser. A casa é o refúgio seguro, mas há o conflito de gerações; a escola é a rua, a vida lá fora, onde se convive com os iguais, e os iguais são produto de consumo, os desiguais são objeto de escárnio. Fora da família, a escola é o primeiro ambiente social da criança. Ali, uns são tímidos, outros desinibidos a ponto de serem os “donos do mundo”. Os tímidos vão sofrer.

Que fazer com os agressores, então? Com os que não conhecem o limite para bem viver em sociedade? Punir? Sim, sempre! Qual punição? Não me atrevo a designar as necessidades da educação de filhos que não são meus. Os pais são os responsáveis? Sempre! Lembremo-nos de que escola não educa, dá instrução. Professora não é “tia”. Educação é responsabilidade paterna. Cabe à escola a fiscalização e a punição administrativa, incluindo aí, o encaminhamento à autoridade policial, se for o caso. Os pais que apontam desídia da escola em fiscalizar, podem estar certos, mas, em relação à correção dos filhos infratores, fogem da responsabilidade. Não é a escola, não é a polícia, não é a “tia” professora quem educa meus filhos, sou eu.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

O que é ser elegante?

Um amigo cumprimentou-me dizendo que eu estava elegante feito um “lord” cubano. Bem, quem me conhece sabe que sempre uso chapéu, e aprecio mesmo um bom charuto da ilha de Fidel. Mas, será que isso faz de mim um sujeito elegante? Costumam serem chamadas de elegantes as pessoas que tratam bem da sua aparência: unhas limpas e cortadas, cabelos bem tratados (no caso dos homens, também uma barba bem feita), vestir-se com esmero, com roupas limpas e asseadas. Se essa pessoa tiver condições econômicas para roupas mais caras, com melhor corte, a elegância evidencia-se. Ora, existem até cursos e escolas onde se ensinam como vestir-se, o que vestir em qual ocasião, regras de etiqueta, etc. Mas, o fundamental, e cada vez mais ausente, é a elegância no comportamento. Pois, o comportamento elegante e gentil está além do aprendizado, da instrução, do saber usar o talher correto, ou qual a meia que combine com o sapato. É uma questão de educação e vai além do dizer “obrigado”, o que já seria uma grande coisa nos nossos dias. A verdadeira elegância manifesta-se sempre, em qualquer momento, não somente nas poses para as colunas sociais. O verdadeiro elegante nem ao menos precisa estar vestido com a roupa da moda ou com “isto” combinando com “aquilo”.

É elegante o que escuta mais do que fala; que nunca passa adiante uma fofoca maledicente; que, mesmo sendo hierarquicamente superior ou esteja investido de algum poder, nunca é arrogante ou prepotente. O verdadeiro elegante é sempre cordial, tem um aperto de mão firme, olho no olho com sinceridade; é sempre pontual em seus compromissos, cumpre o que promete e dentro do prazo estipulado; é aquele que é sempre sincero sem ser rude, tem gestos de carinho e gentileza, sem esperar retribuição. É solidário e gentil silenciosamente e sem afetação. Quando alcança vitória, alegra-se sem se vangloriar; quando perdoa, não tem segundas intenções, não impõe regras ao perdão; quando faz caridade, não faz alarde.

Ser elegante, enfim, é algo que se é, e não que se tem. Está muito além da etiqueta, é um comportamento onde os gestos são educados e naturais e nunca decorados ou ensaiados. O elegante não é falso, pois elegância está no caráter. E caráter não se dissimula. Ao menos, não sempre.

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