Era muito comum, no meu tempo de guri, na escola, alguém “tirar sarro de alguém”, “pegar para courinho”, “pegar alguém de gozação”. A diferença é que agora é em inglês, o “bullying”, e a coisa tomou notoriedade. Resolvia-se, mais ou menos, como hoje: aos socos. Ou seja, é um tipo de violência que sempre existiu, parece uma necessidade de afirmação ou faz parte da formação do indivíduo para a vida em sociedade: “mostrar ao mundo que sou valente”. É lastimável, é claro! Ainda mais agora, que a valentia de “sair na mão” foi trocada pela arma de fogo. Triste, mas é assim que é. Dificilmente alguém escapa de uma gozação dolorosa dentro de uma escola. O gordo é “bolão”, “baleia”. O muito branco é a “barata branca”. O negro é o “crioulo”, “neguinho”. As meninas, além dos demais adjetivos acima, ainda podem ser a “piranha”. O menino mais tímido é a “bichinha”. Muita gente superou essas ofensas e seguiram suas vidas, prósperas e felizes. Outros resolveram com os punhos e superaram também. Outros, no entanto, nunca superaram, mas o certo é que todos ficaram marcados para sempre, e penso que tanto o agredido quanto o agressor. Mas, afinal, por que somos assim tão cruéis? Oh, sim, até as crianças são cruéis!
Tudo passa pela formação da individualidade, pelo autoconhecimento. Conhecer quem sou “eu” depende de observar o “outro” e estabelecer as diferenças. Não falo em respeitar às diferenças, isso já é um segundo momento, quando existe maturidade do ser, e maturidade não tem nada a ver com a idade; falo em perceber que somos diferentes, portanto, aparentemente, não somos iguais. Ora, somos tão diferentes que, ao final, acabamos iguais nas diferenças. Parece “enrolado”, mas não é. Uma criança, por exemplo, aos poucos aprende a diferenciar-se da mãe, percebendo que não é um pedaço ou extensão dela, mas é outro ser individual. Percebe-se melhor essa formação do “eu” na adolescência, a terrível fase das transformações. O jovem se põe num combate feroz contra os próprios impulsos: amar ou odiar? Morrer de vergonha e, às vezes, não ter pudor algum; copiar seu ídolo em tudo, enquanto busca sua própria identidade. A explosão hormonal que acarreta a perda do corpo infantil com a mudança para o adulto que ainda não é. Ser auto-suficiente e, ao mesmo tempo, ser confuso sobre as decisões a tomar. “To be or not to be”, ser ou não ser. A casa é o refúgio seguro, mas há o conflito de gerações; a escola é a rua, a vida lá fora, onde se convive com os iguais, e os iguais são produto de consumo, os desiguais são objeto de escárnio. Fora da família, a escola é o primeiro ambiente social da criança. Ali, uns são tímidos, outros desinibidos a ponto de serem os “donos do mundo”. Os tímidos vão sofrer.
Que fazer com os agressores, então? Com os que não conhecem o limite para bem viver em sociedade? Punir? Sim, sempre! Qual punição? Não me atrevo a designar as necessidades da educação de filhos que não são meus. Os pais são os responsáveis? Sempre! Lembremo-nos de que escola não educa, dá instrução. Professora não é “tia”. Educação é responsabilidade paterna. Cabe à escola a fiscalização e a punição administrativa, incluindo aí, o encaminhamento à autoridade policial, se for o caso. Os pais que apontam desídia da escola em fiscalizar, podem estar certos, mas, em relação à correção dos filhos infratores, fogem da responsabilidade. Não é a escola, não é a polícia, não é a “tia” professora quem educa meus filhos, sou eu.