terça-feira, 6 de outubro de 2009

La negra.



Yo tengo tantos hermanos
Que no los puedo contar
En el valle, la montaña,
En la pampa y en el mar”.

Esses versos do Athaualpa Yupanqui, na voz macia de “la negra”, retumbam sempre no meu pensamento. Lembranças da juventude idealista, sonhadora talvez, vivenciando a platônica idéia de uma real fraternidade latino-americana. Mercedes Sosa morreu. Calou-se a voz da “cantante del pueblo” de fortes posições políticas. A música que era hino dos nossos sonhos está silente. O vento que embalava nossas bandeiras não sopra mais. Conheci Mercedes Sosa em 1976, através da música Volver a los 17, gravada em parceria com o Milton Nascimento, no álbum “Geraes”. Era um rasgo de felicidade ouvir “la negra”. Escutei, depois, sua voz ao lado de Dante Ledesma, Fagner, Caetano Veloso e entre outros mais. A poesia pungente, encantadora e engajada de Neruda, Yupanqui e Violeta Parra fazia a nossa cabeça juvenil dar voltas ao redor da América Latina, e com ela consertávamos aquele nosso mundo abaixo do Equador, sempre mergulhado nas estúpidas ditaduras. Ai, dura perda! Foram-se Elis, o Henfil, o maestro Tom Jobim, o Noel Guarany e, agora, a Mercedes. O Chico já não encanta, o Gil desistiu da política, o Caetano foi para o cinema. O que restou? A América do sul ficou mais pobre. As ditaduras se foram, é verdade, mas as esquerdas que assumiram ainda têm o ranço das ideologias ultrapassadas, com aquela velha vontade de perpetuação no poder. Nenhum Bolívar, nenhum San Martín, são dirigentes primários e lineares, são apenas populistas, sem a inteligência de um Vargas ou Péron, mas trocando favores do Estado pelo voto. “ La negra” cantou a alegria simples dos simples, cantou a saudade, o amor, o trabalho, a solidão, um mundo sem fronteiras e sem bandeiras. Os jornais estão errados, não morreu uma cantora argentina. Perdoem-me os hermanos, mas Mercedes Sosa era uma voz patrimônio de toda a América Latina. Quando chorou com as mães na Plaza de Mayo, acho que chorou por todas as mães em todas as praças do mundo. Obrigado, Mercedez, valeu à pena, Gracias à la vida!

Um comentário:

  1. Precisamos se Vozes que com o encanto do canto animem nossas almas. Foi-se a voz de Mercedes, qual virá?

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