Nunca gostei de
eufemismos. Sempre os tive na conta de “enganação”. Soa como coisa falsa, dita
pelas costas, jeitosa demais. Eu estava no ginásio (só a Velha Guarda sabe o
que é), não sei mais qual era o tema da aula, mas lembro que no meio da
conversa, eu larguei o termo “leproso”, a professora corrigiu de pronto: “Não
se fala leproso, é hanseniano”. Ah, me perdeu para sempre, e daí em diante
desgostei da coisa. Passei também a desconfiar, há alguns anos, dessa baboseira
que é o “politicamente correto”. Então, vem agora o Luiz Felipe Pondé com o seu
livro “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (que logicamente recomendo a
leitura), fazer chover no meu jardim, onde planto as minhas florezinhas de
ironia. Ele faz uma crítica profunda, porém, irônica, sarcástica, como é seu
jeito, sobre o que ele chama de a praga politicamente correta. Ora, uma coisa
desagradável não deixará de ser desagradável só por que eu a menciono de forma
mais “atenuada”. O politicamente correto é a glorificação do eufemismo. Mas, é
também uma ditadura da covardia que impõe um tipo de comportamento que visa ser
agradável, quase superficial (e quase sempre falso e preconceituoso). Ouvi uma
mulher falar, cheia de dedos, indicando um homem que lhe prestara um serviço lá
qualquer: “Ah, é um rapaz assim:... moreninho!”.
Quer mais preconceito que isso? Ora, que raio de cor é essa? Pois, a cor é
preta e a etnia (não gosto do termo raça) é negra, minha senhora! Não há nisso
nenhuma ofensa. Ofender é tratar quem quer que seja com desdém, falta de
educação, com prepotência, arrogância e preconceito. A mim, esta praga
politicamente correta parece uma demonstração de falsa virtude, de acatamento
de uma visão “supostamente correta” do que seja a inclusão das minorias. Isso
não diminui distâncias, mas sim realça as diferenças. É como se a profissão de
alguém, a cor da pele ou qualquer disfunção ou deficiência física fosse um
atributo imoral, uma coisa que só possa ser pronunciada à meia voz ou às
escondidas. Beiramos, sim, as raias da discriminação quando não temos
capacidade de reconhecer que valores morais têm de se sobrepor às diferenças
físicas e intelectuais. Criamos com isso, relações pessoais de mentira calcadas
na superficialidade, no egoísmo e no preconceito gerando uma sociedade
igualmente mentirosa, superficial e hipócrita. Daí o resultado de as nossas
instituições serem carcomidas pela mentira, ou devo dizer: “ausência da
verdade”. Ou seja, faz-de-conta que
somos um governo democrático, justo, honesto e preocupado com o bem estar
social; e faz-de-conta que vocês são
um povo ordeiro, honesto, trabalhador e cheio de civilidade. Você faz-de-conta que é verdade, eu faço de
conta que acredito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário