quarta-feira, 20 de abril de 2011

Não se julga um livro pela capa


Mesmo que não se admita, porque é politicamente incorreto, ainda nos dias de hoje, vivemos a separação da sociedade em “categorias”, onde as pessoas são distinguidas, umas das outras, pela cor de pele, por idade, sexo, orientação sexual, credo religioso, local de moradia ou pela conta bancária. Lógico, diferenças existem e isso há de ser positivo, pois é o somatório das diferenças que produz uma sociedade solidária, democrática e sem preconceitos, mas é o desrespeito às diferenças que sustenta as desigualdades sociais e acarreta injustiças maiores. Ora, somos diferentes uns dos outros e pronto! É a sociedade organizada na forma de Estado que deve desfazer essas diferenças visando à igualdade de acesso aos benefícios deste Estado. Aí começam os problemas. Mulheres trabalhadoras ganham menos que homens na mesma função; mulheres negras ganham menos que as brancas; deficientes não têm acesso à maioria dos prédios públicos; homossexuais são discriminados como promíscuos; jovens não são contratados por conta de inexperiência e os velhos não o são porque são velhos e considerados inválidos; a saúde pública, assim como a educação, é melhor para quem tem melhor posição social; isso tudo somado a outros tantos atos discriminatórios que, hipocritamente, são feitos de modo velado.

Penso que isso começa em casa e se reflete em sociedade. Educamos (mal) nossos filhos, através do exemplo próprio, para que julguem sem conhecer, tecendo “pré-conceitos” sobre tudo e todos, principalmente em relação aos diferentes do “nosso” grupo étnico e social. Erradamente julgamos o livro pela capa e não pelo conteúdo. Ora, eu não preciso “ser igual a ti” para ser “tão bom quanto tu”, se é que tu és bom; posso ser eu mesmo, assim como sou, com todas as diferenças evidenciadas entre nós e possuir qualidades, talvez melhores do que as que tens. Essa a grande lição com a qual devíamos educar as crianças, seria o fim do “bullying”, das discriminações, dos crimes contra os diferentes e da desigualdade. Mas, numa sociedade em que “ter” é mais importante do que “ser” a educação será sempre colocada em segundo plano, a educação moral, então, nem se fala nela. Uma lástima!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Espetáculo da Violência


Ainda ecoam, na memória dos que sobreviveram, os tiros disparados nas salas da escola no Realengo. Ficarão, por certo, cicatrizes mais profundas que as da pele. Impossível não escandalizar-se, difícil de esquecer e perdoar. Ali está a expressão máxima da violência que nos oprime. Uma violência estúpida dirigida a crianças inocentes, e dentro de salas de aula, que deveriam ser santuários em qualquer língua e para qualquer religião. Talvez não seja possível associar este fato com a violência generalizada que assola o país, normalmente ligada ao comércio de entorpecentes, o que, por si só, já é violência suficiente. Mas, existe hoje, nos meios de comunicação, uma banalização da agressividade e do crime levados a todos como o espetáculo da violência. Mesmo os desenhos animados são absurdamente violentos. O crime, transformado em espetáculo, não serve somente para difundir a notícia, presta-se ao aumento nos números da audiência que cada emissora almeja na luta com as concorrentes. E, infelizmente, creio, serve para criar a imagem do anti-herói. Qualquer criança é optada pela agressividade e vai internalizando a violência. Os super-heróis, quando não matam, arrasam tudo ao seu redor, são solitários, cheios de conflitos interiores, quase sempre fracassados em sociedade e em família. O adulto que sai daí, estamos começando a ver pelas ruas, principalmente atrás do volante.

Conserto para isso há? Para a mídia, talvez um auto-policiamento, como escritor sou a favor de uma imprensa livre, mas com responsabilidade. Para a sociedade, bato sempre nas mesmas teclas: educação e disciplina. Mas, começando dentro da família. Um processo intrínseco, de dentro para fora. Quem educa é pai e mãe, não é a professora. Pais e mães devem educar e impor limites com amor e sabedoria, mas, sobretudo, devem educar pelo exemplo. O rapaz criminoso do Realengo, além do problema mental evidente (ninguém que seja sadio mentalmente comete uma chacina daquelas), era a figura típica do resultado de um lar desajustado. Tanto que nenhum familiar foi reclamar seu corpo para enterrá-lo.

A sabedoria está em tirar-se lição até do momento de desgraça. Quais caminhos seguiremos agora? Os professores não sabem como lidar com a violência, não foram capacitados contra o “bullying”, a manutenção das escolas é precária, como então cuidar da segurança dos alunos contra psicopatas armados? Descobrimos que estamos indefesos. Que fazer agora? Vamos cobrar de quem? Acho que de todos nós, a sociedade, o governo e o povo que o elegeu.

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