quarta-feira, 18 de julho de 2012

A Praga

                Nunca gostei de eufemismos. Sempre os tive na conta de “enganação”. Soa como coisa falsa, dita pelas costas, jeitosa demais. Eu estava no ginásio (só a Velha Guarda sabe o que é), não sei mais qual era o tema da aula, mas lembro que no meio da conversa, eu larguei o termo “leproso”, a professora corrigiu de pronto: “Não se fala leproso, é hanseniano”. Ah, me perdeu para sempre, e daí em diante desgostei da coisa. Passei também a desconfiar, há alguns anos, dessa baboseira que é o “politicamente correto”. Então, vem agora o Luiz Felipe Pondé com o seu livro “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (que logicamente recomendo a leitura), fazer chover no meu jardim, onde planto as minhas florezinhas de ironia. Ele faz uma crítica profunda, porém, irônica, sarcástica, como é seu jeito, sobre o que ele chama de a praga politicamente correta. Ora, uma coisa desagradável não deixará de ser desagradável só por que eu a menciono de forma mais “atenuada”. O politicamente correto é a glorificação do eufemismo. Mas, é também uma ditadura da covardia que impõe um tipo de comportamento que visa ser agradável, quase superficial (e quase sempre falso e preconceituoso). Ouvi uma mulher falar, cheia de dedos, indicando um homem que lhe prestara um serviço lá qualquer: “Ah, é um rapaz assim:... moreninho!”. Quer mais preconceito que isso? Ora, que raio de cor é essa? Pois, a cor é preta e a etnia (não gosto do termo raça) é negra, minha senhora! Não há nisso nenhuma ofensa. Ofender é tratar quem quer que seja com desdém, falta de educação, com prepotência, arrogância e preconceito. A mim, esta praga politicamente correta parece uma demonstração de falsa virtude, de acatamento de uma visão “supostamente correta” do que seja a inclusão das minorias. Isso não diminui distâncias, mas sim realça as diferenças. É como se a profissão de alguém, a cor da pele ou qualquer disfunção ou deficiência física fosse um atributo imoral, uma coisa que só possa ser pronunciada à meia voz ou às escondidas. Beiramos, sim, as raias da discriminação quando não temos capacidade de reconhecer que valores morais têm de se sobrepor às diferenças físicas e intelectuais. Criamos com isso, relações pessoais de mentira calcadas na superficialidade, no egoísmo e no preconceito gerando uma sociedade igualmente mentirosa, superficial e hipócrita. Daí o resultado de as nossas instituições serem carcomidas pela mentira, ou devo dizer: “ausência da verdade”. Ou seja, faz-de-conta que somos um governo democrático, justo, honesto e preocupado com o bem estar social; e faz-de-conta que vocês são um povo ordeiro, honesto, trabalhador e cheio de civilidade. Você faz-de-conta que é verdade, eu faço de conta que acredito.

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